Uma vez,
quanto estava de férias, na Ilhabela, fui passar o dia com minha amiga Márcia,
na casa da mãe dela.
Mais uma vez, constatando
que nada é por acaso, ela e sua filha, Cris, estavam ansiosas para me contar
que o irmão da Márcia, havia conhecido um Oftalmologista, proprietário de uma
clínica em Campinas-SP, que poderia avaliar o problema visual da Cris.
Combinamos de irmos,
todos juntos, para que eu pudesse, também, sondar sobre o meu problema:
Retinose Pigmentar.
Durante a consulta da
Cris, comentei que eu tinha Retinose, e o médico disse, entusiasmado:
– Agora, já tem a
solução para a Retinose! È uma técnica Russa, que já estamos usando agui, na
clínica.
Noooossa!
Era tudo que eu
esperava ouvir, durante toda a minha vida!
Ele disse para reparmos
nas publicações emolduradas, que estavam nas paredes de todas as dependências da
clinica: corredores, salas de espera...
Mas, todas elas estavam
escritas em russo, portanto, não conseguíamos entender nada.
Perguntei tudo o que
era preciso para o precedimento, que ele me disse que nem era bem, uma
cirurgia, mas sim, uma medicação injetada nos olhos, e que por segurança, era feito,
um olho de cada vez, dando prioridade ao olho que tinha visão mais
comprometida.
Voltamos para casa,
muito entusiasmados, mas, meu irmão não se contagiou com este entusiasmo.
Ele, mais realista,
disse que precisávamos nos certificar melhor... Se havia pessoas que tiveram
sucesso... Ou, no mínimo, pedir a opinião de nosso primo, médico.
Liguei para ele, contei
toda a história e perguntei sua opinião.
Como ele sempre foi
mais “pé no chão”, disse que iria pesquisar e sondar, se todas as informações
que passei, teriam algum fundamento.
Não encontrou nada com
alguma consistências.
Me falou, inclusive,
que para um tratamento ou precedimento fosse considerado legítimo, eficaz, e
publicado nas revistas médicas especializadas, oficiais, teria que ter uma casuística
de, no mínimo, 60%.
Meu primo ainda
acrescentou:
– Nossa, Sil, se com
limitação visual, você já faz tanta coisa, não posso nem imaginar o que você faria,
enxergando tudo...!
Respondi, com um tom
debochado:
– Ahn... Que tal, piloto
da NASA?
Caímos na risada.
Ele não consegiu constatar
nada, sobre o tratamento, e me aconselhou esperar mais um pouco.
Mas, eu sabia, que não
conseguiria sossegar, se não arriscasse.
Meu irmão, embora
entusiasmado com a possibilidade da cura da Retinosa, foi mais cauteloso.
Achava que ainda era cedo para nos arriscarmos.
Marquei uma consulta, e
o médico disse que o precedimento seria: no olho com visão mais comprometida,uma
anestesia local, para que eu me mantivesse lúcida para ir orientando a
cirurgia, e que seria colocada uma lente, vinda da Rússia, que substituiria o
tecido da retina, e também, seria injetado, um medicamento que auxiliaria no
precesso, para que o tecido novo, saudável, substituísse o outro, com o
pigmentos que compromentem o campo visual.
Assim, eu alcançaria a
cura da Retinose Pigmentar.
Mas, infelizmente, isso
não aconteceu.
Durante a cirurgia,
fiquei toda amarrada à maca, o que me deu uma sensação de desespero, e acabeu
ficando com uma taquicardia, como sequela.
Precisei ficar
acordada, para atender as orientações do médico:
– Agora, olha para
cima... Para a direita...
Eu sentia a cânula, embora
fininha, entrando no canto interno do olho para colocar a tal película,
enrolada, que segundo o médico, depoisde posicionada, seria aberta, já, no
local exato, para que substituísse, com o tempo, o tecido da retina.
Eu pedia,
encarecidamente, para que me deixassem, pelo menos, dobrar uma perna, pois,
estava me dando desespero.
Eles alegavam, que não
poderiam arriscar, pois, o mínimo movimento que eu fizesse, durante a cirurgia,
poderia ter consequências desastrosas.
Nem sei quando, e se
foi, realmente, injetada alguma medicação, no meu olho direito.
Quando, finalmente, me
levaram para a sala de recuperação, me disseram que iriam avisar minhas
acompanhates que a cirurgia havia terminado.
Minha mãe, por sua vez,
ficou acompanhando várias cirurgias, que segundo eles, era em tempo real, e ela
assistiu uma, achando que seria a minha.
Acho que não era. Seria
uma simples cirurgia de miopia, e como demoraram para chama-la, começou a me
procurar por toda a clínica, até que me encontrou na sala de recuperação, me vestindo
para sair correndo, dali.
Fui orientada à voltar,
no dia seguite, para a retirada do curativov.
Quando acordei, meu
olho estava roxo e tão inchado, que eu mal conseguia abrir, por mais que eu me
esforçasse.
Meu rosto, deformado.
Quando cheguei na
clínica, no dia seguinte, as funcionárias me perguntaram o que havia
acontecido.
Ficaram me procurando pelas
dependencias, e pensaram que eu tinha fugido, surtado... Sei lá o quê.
Eu, simplesmente não
sabia que deveria esperar pelos médicos que iriam relatar todo o procedimento
para minha mãe e minha prima, Priscila.
Contei que, quando elas
entraram na sala de recuperação, eu já estava terminando de me arrumar, e só
queria sair correndo, daquele lugar, e fomos embora.
Eu estava transtornada,
desarvorada.
Na retirada do
curativo, o médico, chinês, pedia para que eu abrisse bem os olhos:
– Abre mais... MAIS...
Quase falei para ÊLE,
abrir seus olhinhos, pois, o inchaço era tão grande, que eu, por mais que
tentasse, não conseguia abrir o olho.
E o hematoma, então?
Parecia que eu tinha
lutado boxe, e que tinha levado um “direto” no olho direito.
Comecei a perceber, que
essa criurgia, tinha sido um engodo, principalmente, com o passar do tempo,
constatando que não houve nenhum resultado positivo.
Falei que não estava
enxergando bem, e ele disse que o resultado da cirurgia poderia demorar até UM
ANO!
A expectativa da
melhora, ainda se arrastou por mais um ano, e... NADA!
Ainda por cima, paguei
US$ 1000,00.
Para sofrer tudo isso.
Quase dois anos depois,
marquei uma consulta, junto com a Cris, na Clínica do Prof.Dr. Rubens Belfort
Filho.
Quando contei à ele,
tudo o que havia acontecido, em Campinas, ele disse, quase murmurando,
indignado:
– Essas pessosas
deveriam estar na cadeia! Isso é crime! Charlataneismo!
E continuou:
– Voce poderia ter
usado seus dólares para se divertir no Caribe, ou em qualquer outro lugar... E
ainda pagou para sofrer!
Fiquei tão arrasada,
que ele logo tratou de me animar:
– Tenho um colega, que
acha que dentro de uns 5 ou 6 anos, teremos a cura da Retinose Pigmentar.
– Eu, como sou mais
pessimista, acredito que demore um pouco mais... Uns dez anos...
Isso, já faz mais de 25
anos...
Mas, não perco a
esperança.
Confio, plenamente, na
equipe de pesquisadores da USP de Ribeirão Prêto.
Não tenho mais idade
para sonhar em ser piloto da NASA, mas... Que tal, piloto de helicóptero...?