No comecinho de abril, na noite de 07/04/17,
por volta de 10 e meia da noite, ouvi o alto-falante da Telehelp (o sistema de emergência),
chamando pela minha mãe.
Saí correndo, pois, ela só aciona o sistema,
no pulso, realmente, em caso de emergência.
Ela tinha caído, saíndo do banheiro, ao se preparar
para dormir.
Liquei para meu irmão, que mora ao lado,
pedindo ajuda para coloca-la na cama.
As 02:30 h da manhã, minha mãe me chamou, porque não estava
conseguindo ir sozinha ao banheiro.
Ela sempre foi muito independe e guerreira,
por isto, quando vi que me pediu ajuda, era porque já tinha tentado e sentido muita
dificuldade e dor.
Tentei ajuda-la e caímos, as duas, com o
andador, entre nós.
Telehelp e o Zé colocou na cama
No dia seguinte, constatando que não
conseguiria levantar sozinha, minha mãe me chamou, tentei ajudar, e como não
consegui, chamei meu sobrinho, Bruno, mas, vimos que a situação era mais grave
do que parecia e liguei para o SAMU.
O Nilton, meu primo, foi enviado por Deus:
estava passando pela nossa casa, e viu a ambulância estacionada em frente ao
portão e entrou para ver o que estava acontecendo.
Foi providencial.
Com toda a prática e adquiridas com o tempo
de cuidados com seu pai, ele colocou minha mãe no carro do Kaumer, meu marido,
e fomos para o Pronto Socorro do hospital Dr Guido Guida, conhecido como
hospital do Jardim Medina, bem próximo à nossa casa.
Antes de sair, me informei qual o hospital do
convenio, seria mais indicado, caso fosse preciso transferir minha mão, para
São Paulo.
O médico do PS, apóe constatar que a prótese
do fêmur havia saído do encaixe da bacia, disse que poderíamos levar minha mãe,
para o hospital, em São Paulo, no nosso
carro, já que ela tinha chegado até lá, desta forma e sem maiores problemas.
Pobre mamãe!
Ficou em jejum até às 23:30 horas, e depois, como as taxas do exame de sangue, estavam
alteradas, prorrogaram até as 08:00 horas, repetindo os exames e então, libereram uma dieta leve, e mais uma vez, 12
horas de jejum.
Ficamos esperando para que chamassem para
subir para o Centro Cirurgico, e isto só aconteceu por volta de 1 e meia da
manhã de segunda-feira.
Quando vieram buscar minha mãe, a enfermeira
se ofereceu para subir comigo, mas, eu disse que poderia ir com a mão no ombro
do enfermeiro que levava a maca.
Ao chegar no 8º andar, saindo do elevador ele
digitou uma senha em algum lugar que eu nem tive oportunidade de ver, e entramos
em um tipo de sala de espera, pois, tinha umas poltronas.
Assim que ele me ajudou a me acomodar, disse
que a médica anestesista, logo viria para falar comigo, e subiu com minha mãe, na
maca, para outra sala, provavelmente, onde haviam as salas de cirurgia.
Ouvi uns sons, que pareciam de uma pessoa
mexendo em gavetas, caixas e papéis.
A médica anestesista sentou em frente à uma
mesinha, que eu nem tinha visto, começou a me fazer perguntas para preencher
alguns formulários que provavelmente seria eu, quem teria que preencher, para
depois, assinar.
Ela me informou o conteúdo dos papéis, dizendo
que só fariam a cirurgia aberta, se a ‘’manobra’ não desse o resultado
esperado, e neste caso, a demora seria maior, e aí, sim, seria preciso ir para
a UTI, por algumas horas, para observação nas primeiras horas de recuperação.
Expliquei, para a médica, as minhas possíveis
dificuldades para voltar ao quarto, por causa da baixa visão, e que, por isto, eu precisaria de ajuda para chegar lá.
Ela foi entrando pelos corredores, chamando
por uma pessoas, talvez o próprio enfermeiro, avisando que eu precisava de
ajuda.
Ouvi apenas um som de voz masculina,
concordando em me ajudar...
Mas, o tempo foi passando, e ele não voltava.
O ambiente era frio. Gelado. Com paredes
azulejadas e a pessoa que estava por ali, começou a conversar com outra moça, e
as duas vozes foram se afastando, dizendo que iriam tomar um café.
Quando percebi que iria ficar sozinha,
naquele lugar gélido e sinistro, tenteu chamar:
– Hey! Alguém está me ouvindo?
Nenhuma resposta. Elas já haviam se afastado
demais e mão me ouviram.
Fiquei preocupada e pensando: “Será que
esqueceram de mim?“.
O silencio era sepulcral.
Pesado.
Comecei me agitar mais, pensando: “Quanto
tempo será que vou ficar aqui, esquecida...? O tempo da cirurgia toda...? Vou acabar
congelando... Isto está parecendo um túmulo...“.
Comecei a ficar atordoada, pois estava
cansada, com sono, e tudo aquilo começou a parecer surreal.
Os minutos foram passando, parecendo horas, e
então, achei melhor, tentar sair sozinha, daquele lugar, que me parecia tão
tétrico.
Fui na direção que eu achava que tínhamos entrado.
Tateei a parede e senti um vidro: a porta era
de vidro.
Enquanto tateava, lembrei que o enfermeiro
tinha digitado uma senha, para entrar.
Gelei. Estava presa naquele lugar, e pensei: “Por
quanto tempo...?”.
Graças ao bom Deus, neste instante, percebi
um botão na parede, como se fosse para chamar um elevador, e quando apertei, a
porta de vidro começou a abrir, e me atireii, rapidamente, para fora.
“Ufa! Acho que estou no hall do elevador!’.
Continuei tateando, e encontrei um vão de
porta, azulejado, e deduzi que fosse um acesso à escada. Colocando os pés, um a
um, com medo de encontrar um degrau.
Voltei e continuei tateando a parede ate que
encontrei, o que parecia com uma porta de elevador.
Passei a mão na lateral direita da porta e
encontrei o botão que chama o elevador.
Quando a porta se abriu, coloquei o pé para
sentir se o elevador estava realmente, ali.
Outro desafio: encontrar o painel, e o botão do
7º andar, onde minha mãe estava
internada.
Encontrei o painel, na lateral esquerda da
porta e apertei um botão, ouvindo a voz eletrônica:
– 4º andar.
Apertei outro, mais para cima:
– 6º andar.
Achei melhor apertar escolher um andar bem
baixo, pois, teria mais possibilidade de encontrar alguém esperando pelo
elevador...
– 1º andar. O andar da lanchonete.
Entraram duas moças, me alviando a tensão, e
pedi para que apertassem o botão do 7º andar e explicando minha situação, tentando
voltar, sozinha, para o quarto, e tentando apertar o botão certo.
As moças se ofereceram para me acompanhar até
o quarto, mas, eu disse que lá, no andar, eu encontraria as enfermeiras, ou,
seguindo o corredor e as vozes, eu chegaria no porto de enfermagem.
Uma delas, muito gentil, desceu atrás de mim
e me levou até a porta do quarto.
Alguns minutos depois que entrei, uma enfermeira
veio me informar que, após a cirurgia, o médico iria me chamar para informar os
procedimentos durante a cirurgia e se a cirurgia fosse aberta, minha mãe teria
que ficar durante algumas horas, no UTI, e eu precisaria desocupar o quarto.
Fiquei apavorada.
Para onde eu iria, morando em Poá, sozinha ás
2 da manhã?
Minha cabeça começou a funcionar aos
borbotões, como se um turbilhão de possibilidades viessem ao mesmo tempo
Tenho que lembrar de pegar tudo e colocar nas
2 maletas...
Para onde posso ir?
Como posso ir?
Ligo para alguém vir me buscar?
Vou de taxi...?
Ou Uber?
Quando a enfermeira viu minha cara de pavor,
tentou me acalmar, dizendo que era apenas uma possibilidade, e que deveríamos aguardar
pelo resultado da cirurgia ou da chamada ’manobra’.
Quando a enfermeira saiu, senti uma solidão
profunda.
Tratei de recolher todas as nossas coisas
pessoais, arrumando as duas maletas, me esforçando para lembrar de tudo, pois,
dependo mais da minha memória do que da visão.
Minha cabeça estava atordoada com tantas informações
e emoções diferentes... Tanta tensão...
Resolvi tomar um banho demorado e me arrumar
para a reunião com o médico.
Depois do banho tomado, me arrumei e até fiz
uma maquiagem básica, para fazer hora e poder subir com uma aparência melhor.
Aguardei por alguns minutos, e por volta das 4
e meia da manhã, uma enfermeira veio me chamar e me acompanhou até o Centro
Cirurgico, no 8º andar.
Contei tudo o que tinha acontecido e ela se
ofereceu para ficar comigo, até o médico chegar, mas, ela foi chamada, pelo
celular, e fiquei novamente sozinha, naquela sala lúgubre.
Porém, desta vez, apenas por uns 15 minutos,
e logo o Dr Fernando Baldi, apareceu para me dar todas as informações sobre a ‘manobra’,
feita para recolocar o fêmur no encaixe da bacia.
Ele foi muito simpático, e por isto, me senti
à vontade para pedir ajuda para chegar ao elevador.
Ele mesmo, deu a volta, do que parecia uma
meia-porta com um balcão, digitou a senha e a porta de vidro, novamente se
abriu para que eu saísse.
Muito gentil, ficou aguardando o elevador e
apertou o botão do 7º andar e, só depois de meus agradecimentos, nos despedimos
até que a porta do elevador se fechasse.
Quando desci, fui em direção ao posto de
enfermagem, chamando as enfermeiras, que logo apareceram me oferecendo ajuda.
Felizmente não precisei liberar o quarto e
depois de uns 20 minutos, minha mãe chegou, de maca, conversando animadamente,
com uma agitação um pouco acima do
normal, que deduzi ser efeito colateral da sedação.
A alta, foi bem cedinho e pudemos voltar para
casa, mas minha mãe no podia nem apoiar o pé direito no chão.
Depois de 10 dias, ouvi passos rápidos no
assoalho de madeira, do corredor, e levantei da cama assustada
Meu irmão e minha cunhada me disseram
enquanto se dirijiam para o quarto da minha mãe, que a TeleHelp tinha avisado
que ela havia caído, novamente.
Chegando no quarto, encontramos ela sentada
no chão, dizendo que estava tentando ir se arrastando de bumbum, até o o banheiro, mas estava sentindo muita dor, e
por isto, acionou o botão na pulseira.
No dia seguinte, no feriado de 21 de abril,
ela voltou a ser internada para mais uma “manobra”, mas desta vez, bastou a
agitação durante a noite para que a prótese saísse do lugar ideal, segundo a
radiografia da manhã seguinte.
Foi preciso uma cirurgia aberta, felizmente, pois,
assim, desta vez minha mãe já voltou para casa, podendo apoiar os dois pés no
chão e até andar, com a ajuda do andador.
Graças a ajuda de todos à nossa volta, e
principalmente GRAÇAS à DEUS, minha mãe se encontra em plena recuperação.
Agora, me sinto acordando de um longo
pesadelo...