“Tecnologia – Esperança para os cegos"
"O implante de um micro-chip, devolve parcialmente a visão à dois ingleses que sofrem de Retinose Pigmentar.”
Por Gustavo Simon
“O funcionário público Chris James, de 54 anos, e o produtor musical Robin Miller, de 60 anos. Ambos ingleses, tornaram-se beneficiários de um passo significativo da medicina, no caminho de amenizar os efeitos de um tipo de cegueira que afeta 1 à cada 5 mil pessoas no mundo.
Os dois, sofrem de Retinose Pigmentar, doença genética que compromete algumas células da retina.
Há um mês e meio, eles receberam um implante de uma espécie de uma retina eletrônica dentro do globo ocular.
A semana passada anunciou-se que ambos recuperaram parcialmente a visão, perdida havia décadas.
O procedimento foi conduzido por médicos do Hospital de Olhos de Oxford, do Hospital do King’s College de Londres, a partir de estudos iniciados na Alemanha, em 2005.
Onze pacientes já haviam recebido o dispositivo anteriormente, mas apenas de forma experimental, em laboratório.
James e Miller são os primeiros à serem beneficiados pelo implante, de forma permanente.
Outros países devem iniciar nos próximos meses, experimentos semelhantes.
O Brasil no campus de Ribeirão Prêto, da USP, está na lista.
A Retinose Pigmentar é uma doença hereditária, que mata os cones e bastonetes, células responsáveis por perceber a luz, e com a degeneração dessas células, o doente perde a visão periférica, e conforme a doença avança, também a visão central.
A tecnologia que devolveu a visão parcial aos pacientes ingleses, usa um micro-chip com 1500 microscópicos pixels receptores, alimentado por uma bateria com vida útil de 10 anos, colocada entre o crânio e a pele.
Assim que a bateria foi ligada, os pacientes relataram ter percebido uma luz potente, como se alguém tivesse batido uma foto com flash, à sua frente.
Em pouco tempo, eles já distinguiam foco de luz em uma parede escura, e evoluíram à ponto de notar um prato sobre uma mesa, e de diferenciar formas geométricas básicas.
A imagem formada no cérebro, não tem cores e fica embaçada.
Ainda assim o inglês Robin Miller, relatou que depois de 25 anos, voltou a sonhar em cores.
Os pacientes com os melhores resultados, alcançaram acuidade visual de 3.4 %.
Apesar de pequena, a taxa representa um significativo avanço para quem não enxergava nada, e permite uma relativa independência para realizar atividades cotidianas.
A expectativa dos médicos, é que depois de alguns meses, os pacientes sejam capazes de reconhecer rostos.
“Mesmo com poucos pacientes submetidos até hoje ao implante, os resultados são consistentes, e representam uma alternativa para quem não tinha esperança” diz o oftalmoligista paranaense André Messias, que participou das experiências na Alemanha, e será responsável pelo braço brasileiro da pesquisa.
Há esperança também, de que no futuro, o chip seja aperfeiçoado e usado para tratar males como a degeneração macular, de prevalência muito mais comum.”
Leitura de Quadro:
“O caminho da visão”
“Como funciona o sistema que devolveu a visão aos pacientes ingleses:
Para substituírem as células mortas da retina, os cirurgiões fazem uma incisão no globo ocular, e implantam um chip com 3 mm2 e 50 mícrons de espessura, mais fino do que um fio de cabelo.
O chip, alimentado por uma bateria, possui 1500 eletrodos, que absorvem a luz que entra pelos olhos, e a transforma em impulsos elétricos.
Cada eletrodo está ligado à um circuito amplificador, que aumenta a potência da luz captada.
Assim, o paciente enxerga também, em ambientes pouco iluminados.
Os impulsos elétricos gerados pelo chip, são enviados ao nervo ótico, que precisa estar saudável. Dele os impulsos seguem para o córtex visual no cérebro, que forma as imagens.”
Esta matéria foi transcrita da Veja falada, gravada à partir da leitura da matéria da revista Veja de 05/05/2012.
Fontes: Francisco Max Damico e André Messias, oftalmologistas da USP de Ribeirão Prêto e Retina Implant AG