Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, SP, Brazil
Uma deficiente visual (Retinose Pigmentar), que vê a vida, como um presente à ser desfrutado.

domingo, 2 de julho de 2017

Uma noite inesquecível

         No comecinho de abril, na noite de 07/04/17, por volta de 10 e meia da noite, ouvi o alto-falante da Telehelp (o sistema de emergência), chamando pela minha mãe.
Saí correndo, pois, ela só aciona o sistema, no pulso, realmente, em caso de emergência.
Ela tinha caído, saíndo do banheiro, ao se preparar para  dormir.
Liquei para meu irmão, que mora ao lado, pedindo ajuda para coloca-la na cama.
As 02:30 h da manhã,  minha mãe me chamou, porque não estava conseguindo ir sozinha ao banheiro.
Ela sempre foi muito independe e guerreira, por isto, quando vi que me pediu ajuda, era porque já tinha tentado e sentido muita dificuldade e dor.
Tentei ajuda-la e caímos, as duas, com o andador, entre nós.
Telehelp e o Zé colocou na cama
No dia seguinte, constatando que não conseguiria levantar sozinha, minha mãe me chamou, tentei ajudar, e como não consegui, chamei meu sobrinho, Bruno, mas, vimos que a situação era mais grave do que parecia e liguei para o SAMU.
O Nilton, meu primo, foi enviado por Deus: estava passando pela nossa casa, e viu a ambulância estacionada em frente ao portão e entrou para ver o que estava acontecendo.
Foi providencial.
Com toda a prática e adquiridas com o tempo de cuidados com seu pai, ele colocou minha mãe no carro do Kaumer, meu marido, e fomos para o Pronto Socorro do hospital Dr Guido Guida, conhecido como hospital do Jardim Medina, bem próximo à nossa casa.
Antes de sair, me informei qual o hospital do convenio, seria mais indicado, caso fosse preciso transferir minha mão, para São Paulo.
O médico do PS, apóe constatar que a prótese do fêmur havia saído do encaixe da bacia, disse que poderíamos levar minha mãe, para o hospital, em São Paulo, no  nosso carro, já que ela tinha chegado até lá, desta forma e sem maiores problemas.
Pobre mamãe!
Ficou em jejum até às 23:30 horas, e depois,  como as taxas do exame de sangue, estavam alteradas, prorrogaram até as 08:00 horas, repetindo os exames e então,  libereram uma dieta leve, e mais uma vez, 12 horas de jejum.
Ficamos esperando para que chamassem para subir para o Centro Cirurgico, e isto só aconteceu por volta de 1 e meia da manhã de segunda-feira.
Quando vieram buscar minha mãe, a enfermeira se ofereceu para subir comigo, mas, eu disse que poderia ir com a mão no ombro do enfermeiro que levava a maca.
Ao chegar no 8º andar, saindo do elevador ele digitou uma senha em algum lugar que eu nem tive oportunidade de ver, e entramos em um tipo de sala de espera, pois, tinha umas poltronas.
Assim que ele me ajudou a me acomodar, disse que a médica anestesista, logo viria para falar comigo, e subiu com minha mãe, na maca, para outra sala, provavelmente, onde haviam as salas de cirurgia.
Ouvi uns sons, que pareciam de uma pessoa mexendo em gavetas, caixas e papéis.
A médica anestesista sentou em frente à uma mesinha, que eu nem tinha visto, começou a me fazer perguntas para preencher alguns formulários que provavelmente seria eu, quem teria que preencher, para depois, assinar.
Ela me informou o conteúdo dos papéis, dizendo que só fariam a cirurgia aberta, se a ‘’manobra’ não desse o resultado esperado, e neste caso, a demora seria maior, e aí, sim, seria preciso ir para a UTI, por algumas horas, para observação nas primeiras horas de recuperação.
Expliquei, para a médica, as minhas possíveis dificuldades para voltar ao quarto, por causa da baixa visão, e que, por isto,  eu precisaria de ajuda para chegar lá.
Ela foi entrando pelos corredores, chamando por uma pessoas, talvez o próprio enfermeiro, avisando que eu precisava de ajuda.
Ouvi apenas um som de voz masculina, concordando em me ajudar...
Mas, o tempo foi passando, e ele não voltava.
O ambiente era frio. Gelado. Com paredes azulejadas e a pessoa que estava por ali, começou a conversar com outra moça, e as duas vozes foram se afastando, dizendo que iriam tomar um café.
Quando percebi que iria ficar sozinha, naquele lugar gélido e sinistro, tenteu chamar:
 – Hey! Alguém está me ouvindo?
Nenhuma resposta. Elas já haviam se afastado demais e mão me ouviram.
Fiquei preocupada e pensando: “Será que esqueceram de mim?“.
O silencio era sepulcral.
Pesado.
Comecei me agitar mais, pensando: “Quanto tempo será que vou ficar aqui, esquecida...? O tempo da cirurgia toda...? Vou acabar congelando... Isto está parecendo um túmulo...“.
Comecei a ficar atordoada, pois estava cansada, com sono, e tudo aquilo começou a parecer surreal.
Os minutos foram passando, parecendo horas, e então, achei melhor, tentar sair sozinha, daquele lugar, que me parecia tão tétrico.
Fui na direção que eu achava que tínhamos entrado.
Tateei a parede e senti um vidro: a porta era de vidro.
Enquanto tateava, lembrei que o enfermeiro tinha digitado uma senha, para entrar.
Gelei. Estava presa naquele lugar, e pensei: “Por quanto tempo...?”.
Graças ao bom Deus, neste instante, percebi um botão na parede, como se fosse para chamar um elevador, e quando apertei, a porta de vidro começou a abrir, e me atireii, rapidamente, para fora.
“Ufa! Acho que estou no hall do elevador!’.
Continuei tateando, e encontrei um vão de porta, azulejado, e deduzi que fosse um acesso à escada. Colocando os pés, um a um, com medo de encontrar um degrau.
Voltei e continuei tateando a parede ate que encontrei, o que parecia com uma porta de elevador.
Passei a mão na lateral direita da porta e encontrei o botão que chama o elevador.
Quando a porta se abriu, coloquei o pé para sentir se o elevador estava realmente, ali.
Outro desafio: encontrar o painel, e o botão do 7º  andar, onde minha mãe estava internada.
Encontrei o painel, na lateral esquerda da porta e apertei um botão, ouvindo a voz eletrônica:
 andar.
Apertei outro, mais para cima:
6º andar.
Achei melhor apertar escolher um andar bem baixo, pois, teria mais possibilidade de encontrar alguém esperando pelo elevador...
1º andar. O andar da lanchonete.
Entraram duas moças, me alviando a tensão, e pedi para que apertassem o botão do 7º andar e explicando minha situação, tentando voltar, sozinha, para o quarto, e tentando apertar o botão certo.
As moças se ofereceram para me acompanhar até o quarto, mas, eu disse que lá, no andar, eu encontraria as enfermeiras, ou, seguindo o corredor e as vozes, eu chegaria no porto de enfermagem.
Uma delas, muito gentil, desceu atrás de mim e me levou até a porta do quarto.
Alguns minutos depois que entrei, uma enfermeira veio me informar que, após a cirurgia, o médico iria me chamar para informar os procedimentos durante a cirurgia e se a cirurgia fosse aberta, minha mãe teria que ficar durante algumas horas, no UTI, e eu precisaria desocupar o quarto.
Fiquei apavorada.
Para onde eu iria, morando em Poá, sozinha ás 2 da manhã?
Minha cabeça começou a funcionar aos borbotões, como se um turbilhão de possibilidades viessem ao mesmo tempo
Tenho que lembrar de pegar tudo e colocar nas 2 maletas...
Para onde posso ir?
Como posso ir?
Ligo para alguém vir me buscar?
Vou de taxi...?
Ou Uber?
Quando a enfermeira viu minha cara de pavor, tentou me acalmar, dizendo que era apenas uma possibilidade, e que deveríamos aguardar pelo resultado da cirurgia ou da chamada ’manobra’.
Quando a enfermeira saiu, senti uma solidão profunda.
Tratei de recolher todas as nossas coisas pessoais, arrumando as duas maletas, me esforçando para lembrar de tudo, pois, dependo mais da minha memória do que da visão.
Minha cabeça estava atordoada com tantas informações e emoções diferentes... Tanta tensão...
Resolvi tomar um banho demorado e me arrumar para a reunião com o médico.
Depois do banho tomado, me arrumei e até fiz uma maquiagem básica, para fazer hora e poder subir com uma aparência melhor.
Aguardei por alguns minutos, e por volta das 4 e meia da manhã, uma enfermeira veio me chamar e me acompanhou até o Centro Cirurgico, no 8º andar.
Contei tudo o que tinha acontecido e ela se ofereceu para ficar comigo, até o médico chegar, mas, ela foi chamada, pelo celular, e fiquei novamente sozinha, naquela sala lúgubre.
Porém, desta vez, apenas por uns 15 minutos, e logo o Dr Fernando Baldi, apareceu para me dar todas as informações sobre a ‘manobra’, feita para recolocar o fêmur no encaixe da bacia.
Ele foi muito simpático, e por isto, me senti à vontade para pedir ajuda para chegar ao elevador.
Ele mesmo, deu a volta, do que parecia uma meia-porta com um balcão, digitou a senha e a porta de vidro, novamente se abriu para que eu saísse.
Muito gentil, ficou aguardando o elevador e apertou o botão do 7º andar e, só depois de meus agradecimentos, nos despedimos até que a porta do elevador se fechasse.
Quando desci, fui em direção ao posto de enfermagem, chamando as enfermeiras, que logo apareceram me oferecendo ajuda.
Felizmente não precisei liberar o quarto e depois de uns 20 minutos, minha mãe chegou, de maca, conversando animadamente, com  uma agitação um pouco acima do normal, que deduzi ser efeito colateral da sedação.
A alta, foi bem cedinho e pudemos voltar para casa, mas minha mãe no podia nem apoiar o pé direito no chão.
Depois de 10 dias, ouvi passos rápidos no assoalho de madeira, do corredor, e levantei da cama assustada
Meu irmão e minha cunhada me disseram enquanto se dirijiam para o quarto da minha mãe, que a TeleHelp tinha avisado que ela havia caído, novamente.
Chegando no quarto, encontramos ela sentada no chão, dizendo que estava tentando ir se arrastando de bumbum, até o  o banheiro, mas estava sentindo muita dor, e por isto, acionou o botão na pulseira.
No dia seguinte, no feriado de 21 de abril, ela voltou a ser internada para mais uma “manobra”, mas desta vez, bastou a agitação durante a noite para que a prótese saísse do lugar ideal, segundo a radiografia da manhã seguinte.
Foi preciso uma cirurgia aberta, felizmente, pois, assim, desta vez minha mãe já voltou para casa, podendo apoiar os dois pés no chão e até andar, com a ajuda do andador.
Graças a ajuda de todos à nossa volta, e principalmente GRAÇAS à DEUS, minha mãe se encontra em plena recuperação.

Agora, me sinto acordando de um longo pesadelo...

Reflexões

Para cima, e para o alto!



Se um dia, menino

A vida lhe pega

Andando sem tino

Caindo na pedra



Não fica, menino

Por causa da pedra

Como o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Um dia essa pedra

Com mêdo de alguém

Com o corpo em queda

Pode ir além

De um poço sem fim



Não fica, menino

Por causa da pedra

Com o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Silvann@____