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Uma deficiente visual (Retinose Pigmentar), que vê a vida, como um presente à ser desfrutado.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VIII - 2ª Parte


                                                     Eloy - 2ª Parte

Assim que eu subia no barco, pulava de novo, e repeti isso, por várias vezes.

Subia, e pulava...

Subia, e pulava...

Que delícia!!!

Quande voltei para a praia, a minha mãe estava quase tendo um “treco”, e acabei levando umas palmadas na b...

 Outra coisa que sempre me lembro, é que, quando tive caxumba, estávamos lá, de férias, e fiquei o tempo todo, deitada no sofá do Eloy, aconchegada nele, olhando para o mar...

A minha mãe ficava preocupada, porque ele nem se mexia, quando percebia que eu tinha adormecido, de medo que eu acordasse.

Ele era mesmo muito especial.

Um dia, meu tio teve a grande idéia de construir um piscina, na casa de Poá, já que o Eloy gostava tanto de ficar na àgua, nos dias de muito calor, com a gente à sua volta.

Foi uma idéia e tanto.

“Curtimos” muitos momentos bons, com ele, naquela piscina, que não tinha a menor graça, quando ele não estava.

Um dia ouvi uma conversa de que os médicos disseram para os meus tios, de que o Eloy não passaria da adolescência, porque ele dependia de remédios cada vez mais fortes, para relaxar a rigidez dos músculos.

Isso me deixou “sem chão”.

Perdida.

Nessa época, ele já tinha mais de vinte anos.

Tinha sido alfabetizado em casa, com um raciocínio lógico incrível, privilegiado, e com isso até me ajudava nas lições de casa.

Ele já tinha passado da adolescência, e isso fez com que mais uma vez, eu pensasse: só Deus é dono de nossas vidas, do nosso destino.

Como sua adolescência já havia passado, percebi que não precisava me preocupar com a sentença de um médico falível, como qualquer ser humano.

Mas eu vivia com medo de perde-lo, e principalmente, de como seria...

Quando já estávamos um ano, na casa nova, construída no lote ao lado da casa antiga, também em frente à praça José Guida, cheguei da faculdade, e soube que a minha mãe tinha ido pra São Paulo com a minha tia Yolanda, e o meu tio “Filico”, os pais do Eloy.

Elas sempre aproveitavam a carona do meu tio, que ia buscar as fitas, como ele chamava os rolos de filmes, para o cinema.

Chegando da faculdade, resolvi ir até a casa dos meus tios, para almoçar, como sempre fazia quando minha mãe ira com eles para São Paulo, pois, a empregada sempre fazia almoço pra todos: Eloy, Nancy, meu irmão e eu, minha avó, etc...

Assim que cheguei, a empregada veio encontrar comigo, assustada, dizendo que o cuidador estava dando comida para o Eloy, e ele dormiu.

Simplesmente fechou os olhos, e não acordava.

Ela disse sussurrando bem perto de mim, com os olhos arregalados:

— Acho que ele morreu.

Fiquei paralisada.

Aos 33 anos, e durante o almoço, simplesmente fechou os olhos, e se libertou daquele corpo que o aprisionava.

Chegou o dia que eu tanto temia.

O momento que me assombrou durante tantos anos, tinha chegado.

Atravessei a sala de jantar, sem coragem de olhar para a minha direita, onde eu poderia ver o Eloy, em seu quarto, recostado no seu lugar, no sofá.

Fui até a sala de TV, e me afundei no sofá de couro vermelho, com mil coisas passando ao mesmo tempo pela minha cabeça.

Cheguei rapidamente à conclusão de que a prioridade seria contar com muito jeito, pra Nancy, que estava grávida de 5 meses, entrando pela varanda dos fundos, com portas para a sala de jantar...

Eu só queria tira-la de lá, antes que ela percebesse sozinha o que estava acontecendo. Então, chamei uma prima, que morava entre a casa grande e a minha, pedindo, sutilmente,  para que me ajudasse, a dar a triste notícia.

Infelizmente, nossa suspeita se transformou em certeza.

A Nancy começou a chorar baixinho, encolhida como um bichinho ferido, e nós, pedíamos para que ela se acalmasse, e por causa do bebê.

Ela tinha que se esforçar para reagir.

Eu não sabia se chorava por mim, por ela, ou com ela.

Ele foi um professor, que me deu grandes exemplos e lições de vida.

Fiquei pensando em como avisar os meus tios, mas me falaram que alguém já havia ligado para a companhia distribuidora dos filmes, localizando meu tio, comunicando o triste acontecimento.

Meu tio teve que ouvir isso por telefone.

A minha mãe,  estava com a minha tia em uma loja, da Rua 25 de março, comprando tecidos.

Como sempre fazia, pediu para usar o telefone para ligar para o meu tio, na companhia distribuidora, e confirmar o horário que ele iria pegá-las para voltar pra casa, em Poá.

A minha mãe, viu minha tia voltando do fundo da loja, pálida e cambaleante, e foi ao encontro dela, perguntanto o que tinha acontecido.

Minha tia mal conseguia falar:

— Quando perguntei pelo “Filico”, eles logo me disseram que ele já sabia que o filho tinha morrido.

A minha mãe, atônita, disse que devia ser um mal entendido, para ela ficar mais calma.

Quando, finalmente encontraram com meu tio, na hora e lugar de sempre, ao entrarem no carro e olharem para ele, constataram a verdade.

Imagino como deve ter sido aquela viagem até Poá.

A mais longa e demorada de suas vidas.

O que nos consolava, é que o Eloy se libertou daquele corpo que o aprisionou durante toda a sua vida.

Novamente, me veio à cabeã. Qie ele era tão especial, cercado por tanto amor e dono de tanta sabedoria, que tenho certeza que nunca se  sentiu um cárcere.

E isso é o que mais importa.

Infelizmente, isso não foi consolo suficiente para o meu tio, que perdeu sua alegria de viver, e morreu exatamente 3 meses depois.

Reflexões

Para cima, e para o alto!



Se um dia, menino

A vida lhe pega

Andando sem tino

Caindo na pedra



Não fica, menino

Por causa da pedra

Como o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Um dia essa pedra

Com mêdo de alguém

Com o corpo em queda

Pode ir além

De um poço sem fim



Não fica, menino

Por causa da pedra

Com o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Silvann@____