Eloy - 2ª Parte
Assim que eu subia no barco, pulava de novo, e repeti isso, por
várias vezes.
Subia, e pulava...
Subia, e pulava...
Que delícia!!!
Quande voltei para a praia, a minha mãe estava quase tendo um
“treco”, e acabei levando umas palmadas na b...
Outra coisa que sempre me
lembro, é que, quando tive caxumba, estávamos lá, de férias, e fiquei o tempo
todo, deitada no sofá do Eloy, aconchegada nele, olhando para o mar...
A minha mãe ficava preocupada, porque ele nem se mexia, quando
percebia que eu tinha adormecido, de medo que eu acordasse.
Ele era mesmo muito especial.
Um dia, meu tio teve a grande idéia de construir um piscina, na
casa de Poá, já que o Eloy gostava tanto de ficar na àgua, nos dias de muito
calor, com a gente à sua volta.
Foi uma idéia e tanto.
“Curtimos” muitos momentos bons, com ele, naquela piscina, que não
tinha a menor graça, quando ele não estava.
Um dia ouvi uma conversa de que os médicos disseram para os meus
tios, de que o Eloy não passaria da adolescência, porque ele dependia de
remédios cada vez mais fortes, para relaxar a rigidez dos músculos.
Isso me deixou “sem chão”.
Perdida.
Nessa época, ele já tinha mais de vinte anos.
Tinha sido alfabetizado em casa, com um raciocínio lógico
incrível, privilegiado, e com isso até me ajudava nas lições de casa.
Ele já tinha passado da adolescência, e isso fez com que mais uma
vez, eu pensasse: só Deus é dono de nossas vidas, do nosso destino.
Como sua adolescência já havia passado, percebi que não precisava
me preocupar com a sentença de um médico falível, como qualquer ser humano.
Mas eu vivia com medo de perde-lo, e principalmente, de como
seria...
Quando já estávamos um ano, na casa nova, construída no lote ao
lado da casa antiga, também em frente à praça José Guida, cheguei da faculdade,
e soube que a minha mãe tinha ido pra São Paulo com a minha tia Yolanda, e o
meu tio “Filico”, os pais do Eloy.
Elas sempre aproveitavam a carona do meu tio, que ia buscar as
fitas, como ele chamava os rolos de filmes, para o cinema.
Chegando da faculdade, resolvi ir até a casa dos meus tios, para
almoçar, como sempre fazia quando minha mãe ira com eles para São Paulo, pois,
a empregada sempre fazia almoço pra todos: Eloy, Nancy, meu irmão e eu, minha
avó, etc...
Assim que cheguei, a empregada veio encontrar comigo, assustada,
dizendo que o cuidador estava dando comida para o Eloy, e ele dormiu.
Simplesmente fechou os olhos, e não acordava.
Ela disse sussurrando bem perto de mim, com os olhos arregalados:
— Acho que ele morreu.
Fiquei paralisada.
Aos 33 anos, e durante o almoço, simplesmente fechou os olhos, e
se libertou daquele corpo que o aprisionava.
Chegou o dia que eu
tanto temia.
O momento que me
assombrou durante tantos anos, tinha chegado.
Atravessei a sala de
jantar, sem coragem de olhar para a minha direita, onde eu poderia ver o Eloy,
em seu quarto, recostado no seu lugar, no sofá.
Fui até a sala de TV, e me
afundei no sofá de couro vermelho, com mil coisas passando ao mesmo tempo pela
minha cabeça.
Cheguei rapidamente à
conclusão de que a prioridade seria contar com muito jeito, pra Nancy, que
estava grávida de 5 meses, entrando pela varanda dos fundos, com portas para a
sala de jantar...
Eu só queria tira-la de
lá, antes que ela percebesse sozinha o que estava acontecendo. Então, chamei
uma prima, que morava entre a casa grande e a minha, pedindo, sutilmente, para que me ajudasse, a dar a triste notícia.
Infelizmente, nossa
suspeita se transformou em certeza.
A Nancy começou a chorar
baixinho, encolhida como um bichinho ferido, e nós, pedíamos para que ela se
acalmasse, e por causa do bebê.
Ela tinha que se
esforçar para reagir.
Eu não sabia se chorava
por mim, por ela, ou com ela.
Ele foi um professor, que
me deu grandes exemplos e lições de vida.
Fiquei pensando em como
avisar os meus tios, mas me falaram que alguém já havia ligado para a companhia
distribuidora dos filmes, localizando meu tio, comunicando o triste
acontecimento.
Meu tio teve que ouvir isso
por telefone.
A minha mãe, estava com a minha tia em uma loja, da Rua 25
de março, comprando tecidos.
Como sempre fazia, pediu
para usar o telefone para ligar para o meu tio, na companhia distribuidora, e
confirmar o horário que ele iria pegá-las para voltar pra casa, em Poá.
A minha mãe, viu minha
tia voltando do fundo da loja, pálida e cambaleante, e foi ao encontro dela,
perguntanto o que tinha acontecido.
Minha tia mal conseguia
falar:
— Quando perguntei pelo
“Filico”, eles logo me disseram que ele já sabia que o filho tinha morrido.
A minha mãe, atônita,
disse que devia ser um mal entendido, para ela ficar mais calma.
Quando, finalmente
encontraram com meu tio, na hora e lugar de sempre, ao entrarem no carro e
olharem para ele, constataram a verdade.
Imagino como deve ter
sido aquela viagem até Poá.
A mais longa e demorada
de suas vidas.
O que nos consolava, é
que o Eloy se libertou daquele corpo que o aprisionou durante toda a sua vida.
Novamente, me veio à
cabeã. Qie ele era tão especial, cercado por tanto amor e dono de tanta
sabedoria, que tenho certeza que nunca se
sentiu um cárcere.
E isso é o que mais
importa.
Infelizmente, isso não
foi consolo suficiente para o meu tio, que perdeu sua alegria de viver, e
morreu exatamente 3 meses depois.