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São Paulo, SP, Brazil
Uma deficiente visual (Retinose Pigmentar), que vê a vida, como um presente à ser desfrutado.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VIII - 1ª Parte


Eloy - 1ª Parte

 

O Eloy e a Nancy, sempre foram mais do que primos, pois, fomos criados juntos.

Eles, moravam na casa grande, da esquina, e nós, duas casas depois, mas no mesmo terreno com acesso por trás da casa do tio Fábio, que ficava entre as duas casas.

O Eloy era tetraplégico, e como sempre convivi com isso, criada com ele, para mim, isso era tão natural como a minha deficiência visual.

Até bem pouco tempo, eu não tinha me dado conta que eramos diferentes: deficientes.

Muito pelo contrário.

Eu me sentia privilegiada por morar em um lugar tão, gostoso, com horta, pomar, quadra e piscina.

Tudo era natural.

A maioria das minhas lembranças são ligadas aos momentos que passei com esses meus primos.

O fato do Eloy ser tetraplégico, em nenhum momento fez com que eu o visse diferente.

Talvez eu tivesse perguntado sobre isso quando era muito pequena, e a resposta deve ter sido satisfatória, para uma criança, que se contenta com explicações simples.

Uma vez, me lembro de ter perguntado se ele nasceu assim, e a minha avó me disse que, só perceberam quando ele atingiu a idade de começar a sentar, engatinhar, e seu corpo não se sustentava sozinho.

Sempre fez parte da minha rotina, ficar com ele, saber como tinha passado a noite, ou correr comportilhar alguma coisa que tinha me acontecido...

Muitas vezes, cheguei na casa deles, antes mesmo de acordarem, e ele ainda estava ma cama, para onde só ia  na hora da dormir.

Ele passava o dia, em um sofé-cama que ficava no quarto dele, seu oásis, que tinha tudo o que ele gostava: gravador de rolo para ouvir suas músicas preferidas, a primeira TV da casa, um grande aquário, um enorme vitro, que dava para o jardim, que pegava quase toda a parede, e permitia uma visão panorâmica do jardim da frente da casa e para praça, do outro lado da rua.

A posição que ele ficava, era mais ou menos a mesma: com a perna direita quase esticada, e outra quase totalmente dobrada para trás, ao longo do corpo.

Os braços também tinham as posições parecidas, tanto de bruços como recostado nos travesseiros, no sofá-cama.

Ele tinha um cuidador, que o carregava da cama para os sofá, ajudava nas necessidades fisioiógicas, no banho, vestia suas roupas, dava água em uma espécie de garrafinha com canudo, comida, ajeitava seus três travesseiros quando estava sentado, ou o virava de bruços quando se cansava de ficar na mesma posição.

O quarto dele, era incrível! Lindo, iluminado, alegre... Com duas paredes pintadas de verde claro, mas vibrante, e duas com papel de parede texturizado, em verde bandeira.

Tinha duas portas, uma em frente à outro.

Uma, com saída direta para a lateral do jardim, e a outra para o corredor interno da casa.

As portas eram envernizadas, com batentes pintados de branco, e tudo combinava perfeitamente com a colcha da cama e as cortinas do mesmo estampado com vários tipos de folhas e tons de verde.

Sua cama, foi feita sob medida, imitando um sofá, que durante o dia, era decorada com almofadões e na cabeceira, dois interruptores embutidos: um, para acender a luz, e outro, para acionar uma campaínha, caso ele precisasse de ajuda durante a noite.

Por ser deficiente físico, seu mundo se resumia, praticamente, àquele quarto.

Eu sempre queria fazer alguma coisa por ele, mas não era muito recomendável, pois, um dia fui pôr um bombom na sua boca, e naquele exato momento, pousou um mosquito!

Ele me disse que comeu com mosquito e tudo!

Ai, meu Deus!

Até hoje, ainda penso nisso, em dúvida: “será mesmo que o mosquito não voou para fora, antes dele fechar a boca?”

Durante muito tempo, sem acreditar, eu perguntei se ele não tinha me enganado, se ele tinha engolido mesmo o mosquito, mas infelizmente, ele nunca mudou sua versão da história.

Acabamos rindo da situação.

Foi depois daquilo, que descobri que ser cuidadora, não é bem “a minha praia”.

Ele foi meu companheiro em todas as horas,

Gentil, sensível, com uma sabedoria incrível, e um enorme bom-humor.

Não me lembro de nenhum dia que ele estivesse de “baixo astral”. Ao contrário, estava sempre nos pondo ”levantando a nossa bola”!

Acho que ele foi um dos grandes responsáveis, pelo fato de eu sempre olhar o lado bom da vida, por pior que as coisas possam parecer.

Depois de muito tempo, questionei, se ele alguma vez, se sentiu frustrado por ver a gente, meu irmão e eu, aprendendo andar de bicicleta, passando pela porta de saída do seu quarto, e pelo jardim em frente a parede envidraçada, e pedindo para ele nos ajudar a contar quantas voltas deu cada um. Não só para não haver injustiça, mas também, como forma dele participar das nossas brincadeiras

Tenho muitas lembranças gostosas dos momentos que passei com ele, até jogar dama, ela jogava, indicando para nós, a peça que ele queria movimentar, e na maioria das vezes, ele ganhava, o danado!

Era muito inteligente.

Ele tinha amigos que tocavam violão e a gente cantava junto...

Quando a Nancy, sua irmã, começou a tocar violão, foi uma delícia.

A casa de praia, em São Francisco da Praia, em São Sebastião, fica encrustrada entre a BR 116 e o mar.

Meu tio comprou esta casa, principalmente, para lhe proporcionar mais uma alegria, e eu, assim como meu irmão e meus pais, estávamos sempre por lá.

Foi ao lado dele, que aprendi a nadar.

O cuidador o levava no colo, com uma bóia de borracha preta, de pneu até o mar, e colocado em uma bóia feita de câmara de pneu, e eu ia junto, aprendendo a me mexer na àgua e direcionar a  minha bóia.

Lá, o mar é calmo, porque fica no canal entre a São Sebastião e a Ilhabela, e por conta disso, quase não tem ondas.

Isso facilitou muito para que aprendêssemos a nadar, mergulhar, etc...

A minha mãe, quase morreu do coração, quando um dia, resolvi ir até o barco, atrás do meu tio, que nadava ao lado do pequeno barco de motor de popa, ancorado no fundo, em frente à casa, e do Eloy, em sua bóia.

Meu irmão e a Nancy, que estavam no barco, me ajudavam a subir, para que eu pulasse, de bóia, de volta pra agua. Eu já fazia isto, antes mesmo de aprender a nadar sem a bóia.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VII


A casa da vovó Anna

 

As lembranças mais marcantes da minha infância, estão intrinsecamente ligadas às 3 casas: a dos meus pais, a da minha avó paterna, Anna, e a do tio “Filico”, irmão do meu pai.

Isto porque, elas faziam parte do mesmo lugar, que foi subdividido, mas era uma só propriedade, dos meus avós paternos.

Infelizmente, meu avô faleceu 2 meses antes do meu nascimento.

Esse lugar, atualmente, poderíamos chamar de um condomínio familiar, de casas; com a diferença, de que uma parte área pertencia ao meu tio Vicente, irmão mais velho do meu pai, que morava em São Paulo. O terreno era foi transformado em pomar, milharal, horta e uma quadra onde aprendi a andar de patins e que a família e amigos usavam para jogar tamboréu, uma espécie de tênis, nos finais de semana. Houveram até campeonatos...

Um senhor, que chamávamos de “seu” Salvador, cuidava dos plantios e das colheitas, levava as verduras e frutas já limpinhas, para a minha avó, minha tia e minha mãe.

A casa grande, dos meus avós, fica na esquina da Rua Vicente Guida (nosso bisavô), com a Praça José Guida, em homenagem ao meu avô, quem  doou uma parte triangular do seu terreno, para que a prefeitura passasse uma avenida e construísse esta praça.

Meu tio Fábio com seus infinitos dons artísticos, desenhou o projeto dessa praça, em formato triangular com um traçado incrível, com caminhos sinuosos, que circundavam canteiros com plantas, árvores e um grande caramanchão central.

 Neste caramanchão com pilares de sustentação das vergas trabalhadas como esculturas, subiam trepadeiras, que estavam sempre carregadas de flores amarelas, se não me engano, chamadas de: adamandas ou alamandas.

Era lindo, mas infelizmente o caramanchão foi destruído, e a praça, descaracterizada.

É uma pena que no Brasil, temos tão poucas pessoas que respeitam e preservam a história.

Eu ainda sonho com a reconstrução daquele caramanchão, e a recupuração daquela antiga praça que faz parte não só da minha história mas de histórias de muitas famílias que usufruiram do ambiente mágico daquela praça.

No mesmo terreno da casa grande, do meu avô, foram construídos ao longo da rua lateral, a rua Vicente Guida, a casa do caseiro e uma garagem, com saídas independentes; um salão de jogos e um galinheiro com acesso por dentro da propriedade mas construídos no limite da rua.

O galinheiro era construído na parte lateral do salão de jogos, com três paredes de alvenaria e fechado por um alambrado com um portão central.

No fundo, um tipo de viveiro suspenso para proteger as galinhas e seus ovos, da depedração dos gambás e outros animais que costumavam ataca-las durante a madrugada.

O acesso das galinhas ao viveiro, era feito por uma espécie de rampa de madeira com mini-degraus, que as galinhas usavam no final da tarde para se recolher aos seus ninhos.

Meu tio Vicente, projetou um sistema que, quando elas botavam os ovos, eles rolavam para um local abaixo com uma forração de palha, fechado e protegido, com um acesso fácil para que a minha avó pudesse recolher os ovos.

Eu gostava muito de ouvir a minha avó contar sobre um cachorrinho, da raça fox paulistinha, que a ajudava a pegar a galinha escolhida: ela só ameaçava pega-la, e o cachorrinho a perseguia em meio a todas as outras galinhas, e a segurava, debruçado com as duas patas dianteiras sobre ela, esperando que minha avó a pegasse.

Quando meu avô morreu, foi feita a divisão do terreno, e essa parte ficou para o meu tio “Filico”, e para a minha avó não perder a sua independência e privacidade, foi contruída uma casinha muito charmosa, para ela.

Um verdadeiro bangalô,  gostoso e aconchegante.

A janela do quarto e o vitrô da sala, com uma linda jardineira de gerânios vermelhos, recebiam o sol da manhã. Eram voltados para o leste, onde fica a casa grande, que tinha um terraço, e entre eles uma espécie de átrio, com uma grande figueira rodeada por um canteiro de lírios amarelos.

O muro baixo com pilares pequenos, robustos e trabalhados em cimento, foi feito apenas em uma pequena extensão das laterais, até a direção onde começava a casa gramde, e na parte da frente, com um portãozinho baixo, para a entrada social da casa grande, pois ficava em frente à praça.

Na continuação das divisas laterais, rua de um lado e terreno do tio Fábio do outro, uma mureta baixa com alambrado, apoiava uma linda cerca-viva de hibiscos vermelhos, e no chão, escondendo a pequena mureta, um canteiro de lírios amarelos acompanhava toda a cerca-viva.

Apenas do lado da casa da minha avó, no final da cerca-viva, tinha um portão de acesso à rua. Era esse o portão mais usado, pois era o mais próximo à casa grande e a da minha avó, e principalmente à garagem onde meu tio guardava o carro.

Outra figueira ficava na direção da janela do quarto da Nancy, minha prima e dava uma deliciosa sombra, para uma grande mesa e um banco esculpidos em cimento, todo rebuscado, pelo meu avô.

Hoje eles enfeitam um recanto no jardim dos fundos da casa da minha mãe, como verdadeiros troféus, com valor estimativo incalculável.

A entrada da sala da casa da minha avó, tinha uma espécie de hall aberto, ou uma micro-varanda, que protegia a porta e tinha uma minúscula jardineira de gerâneos vermelhos, como aquela que ficava embaixo do vitrô da sala.

Ah... Eram lindos...!

Tanto no pilar da mini-varanda, como na grande figueira, foram colocados ganchos, onde a minha avó estendia uma rede e ficávamos ouvindo rádio, aprendendo alemão, ou simplesmente conversando.

Eu adorava ouvir as histórias que a minha avó nos contava...

Nas partes pavimentadas entre esse jardim e o da frente da casa grande, as partes pavimentadas nos permitiam andar de bicicleta, e até, de patins.

Foi neste lugar que aprendi a andar de bicicleta, em uma Hercules, enorme, preta, linda... da Nancy.

Era tão grande, alta, e eu, tão pequena e franzina, qua mal alcançava os pedais, e o guidom ao mesmo tempo.

O selim, então, nem pensar. Ou eu sentava, ou pedalava.

Âs vezes eu dava bastante impulso e depois em uma parte que tinha um discreto aclive, eu sentava no selim, e até arriscava a colocar os pés no guidom, e “curtia” o vento batento no meu rosto...

Ah, que delícia...

Isto é felicidade!!!

Muitas vezes, tentava andar em uma bicicleta do “Luisão”, o cuidador do meu primo, Eloy.

Era daquelas bicicletas masculinas, com cano no meio.

Foi assim, com ele, que eu e meu irmão, começamos a aprender a andar de bicicleta. Logo depois, no  Natal, ganhei a minha tão sonhada  bicicleta, com rodinhas, mas eu não conseguia confiar nelas...

Nos jardins daquela casa, todos os espaços que não tinham árvores, canteiros e gramados, tinham espaços grandes e caminhos, melhores e muito mais interessantes do que uma simples ciclovia.

Foi lá também, que aprendi a andar de patins.

Na quadra, não tinha onde me apoiar, já que era rodeada por gramado, então, até pegar um pouco de segurança, eu me apoiava nas paredes da casa, e andava na calçada que a rodeava.

Muitas vezes, de bicicleta, subíamos no gramado e contornávamos a arvore e o caramanchão...

A minha avó ficava uma “fera”, pois, não era preciso estragar o gramado, com tanto espaço disponível...

Agora sei, que criança é assim: sempre tem que buscar algo além do que os adultos já permiriam.

O grande gramado do jardim da frente da casa, era dividido por um caminho que levava até o portão principal, da frente da cssa, e em frente a praça.

No centro de um dos espaços gramados, tinha uma grande árvore,, redeada por um canteiro, e do outro, um caramanchão um pouco menor do que o da praça, também esculpido pelo meu avô, com uma mesa redonda, e um pé central, todo trabalhado, rodeado por um banco em semi-circulo, cujo encosto era a mureta toda trabalhada, do próprio caramanchão, que ficava no meio de um canteiro de hortênsias brancas.

Até a escadinha de quatro degraus, que dava acesso ao caramanchão, tinha corrimões laterais com balaústres trabalhados em cimento.

As trepadeiras de flores amarelas, subiam também ali naqueles pilares e vigas, quase formando um telhado de troncos, folhas e flores.

A garagem do meu tio, era incrustrada entre a casa da minha avó e a do caseiro, e tinha uma janelinha redonda, alta, com tela, na parede dos fundas da garagem, e da cozinha da minha avó.

Esta abertura permitia que eles se ouvissem, e conversassem rapidamente, caso ela estivesse na cozinha e ele, na garagem.

Ele chamava primeiro na frente, e se ela não respondesse, depois que saía pelo portão lateral, abria a grande porta da garagem, e a chamava por lá.

A gente ouvia ele erguer a grande e barulhenta porta de ferro da garagem e chamando a minha avó.

Até hoje, consigo me lembrar bem da voz do meu tio, o som da porta da garagem subindo...

Realmente o deficiente visual tem a vantagem de ter uma lembrança auditiva muito presente.

Ainda consigo me lembrar com nitidez, meu tio dizendo:

—Mãe...? ‘Tô saindo... Precisa de dinheiro...? Quer alguma coisa da rua...?

Ou:

—Mãe...? ‘Tô chegando!

Frequentemente, ela ficava esperando ele voltar.

Meu irmão e eu, dormíamos na casa da minha avó, frequentemente, e tentávamos esperar  pelo meu tio, acordados.

Meus tios e minha avó sempre nos acompanhavam até nossa casa, depois de anoitecer. Mas, muitas vezes, por estarmos juntos, meu irmão e eu dispensávamos a ajuda.

Assim  iamos os dois sem enxergar, pela calçadinha que ficava entre o milharal e os fundos da casa do tio Fábio, e terminava em um portãozinho nos fundos do terreno da nossa casa.

Meu irmão, talvez sem querer admitir seus próprios medos, me dava coragem, e dizia:

— Vamos cantamdo, como a vovó ensinou. Assim a gente não vai sentir medo. Ela dizia: “Quem canta, seus males espanta”.

E a gente interpretava como:

— Quem canta, está protegido de tudo..,

E assim, íamos cantando até chegar no portãozinho dos fundos do nosso quintal.

Ao lado direito um viveiro enorme, aonde tínhamos um papagaio, que sempre que a minha avó passava por ali, ele anunciava, com aquela voz rouca e estridente:

— ‘Vó Anna...? ‘Vó Ana? — ele chamava.

Uma manhã, minha mãe entrou chorando na cozinha, dizento que uma raposinha, ou um gambá, tinha atacado nosso querido “Louro” e deixado apenas sangue e penas espalhados por todo o viveiro.

Coitado!

Entre este viveiro e a casa tinha um caminho em curva, calçado, que dividia dois gramados: um, que tinha duas colunas de madeira, pintadas de vermelho. Cada coluna sustentava um viga, que  servia como base para vários fios de varal, e ao lado esquerdo uma cerca viva com hibiscos vermelhos que fazia divisa com o terreno da casa do tio Fábio; a parte com grama. servia como quarador.

O gramado do lado direito, tinha um balanço e o caminho para o galinheiro, que ficava entre a garagem e os fundos do terreno.

É incrível, que com tão pouca visão, me lembro de tantos detalhes, até a moldura do balanço, feita pelo meu pai, que assim como a base dos varais, era pintada de vermelho, combinando com as janelas e portas da casa para contrastar com o branco das paredes.

No escuro, víamos apenas as luzes, que vinham do vitro e da porta da cozinha que ficava sempre aberta.

Nesse momento já chamavamos pela minha mãe, avisando que estavamos chegando, e ela normalmente respondia, feliz e aliviada com nossa chegada, às voltas com a preparação do jantar...

Nós gostavamos muito, quando meus pais deixavam a gente dormir na casa da minha avó.

Quando meu tio voltava do trabalho, nos cinemas, passava pela casa dela e sempre que estavamos com ele, o clima era de festa... De farra...

Ele administrava um cinema em Poá, e outro em Suzano e ia quase todas as vezes, de um para o outro, na hora de abrir, e voltava para lá, quase na hora de fechar.

A gente sempre comentava, e admirava, a paciência dele, em tirar as roupas confortáveis, se arrumar todo para ir trabalhar, trocar de novo, para ficar em casa, e se arrumar de novo para fachar os cinemas.

Para mim, a casa deles era uma extensão da minha.

Só, que muito mais movimentada. Mais animada, pois meu tio era sempre muito divertido.

Eu ia depois do almoço, ver os meus primos, e assistir televisão com eles.

Assistíamos com ele, na TV: A feiticeira, Jeannie é um gênio, Agente 86, etc...

Era uma rotina deliciosa.

Inesquecível.

Meus pais sempre contaram que, contruiram a casa que fui criada, cuidando de cada detalhe, aos poucos, do jeitinho que eles sonharam.

Mas, assim que ela ficou pronta, minha tia, casada com meu tio Vicente, o mais velho e mais respeitado, pediu para que meus pais cedessem a casa deles, por uns tempos, para o tio “Filico” e sua família, para que o Eloy, meu primo paraplégico tivesse mais conforto.

Minha mãe, com sua generosidade inata, nem pestanejou, e meu pai a admirou ainda mais, por sua atitude tão altruísta.

Não me lembro desta fase, nem com quantos anos eu estava, quando fomos morar na nossa casa.

Todas as lembranças de infância, já são de quando morávamos na nossa casa, e meus tios e primos, na casa grande, da esquina, que tinha sido dos meus avós, e passado por algumas reformas.

Uma das coisas que mais gostávamos, era de dormir na casa das nossas avós...

Uma vez, na casa da vovó Anna, levantei de noite pra fazer xixi, e nem acendi a luz.

Estava tão acostumada com a casa...

Quando fui lavar as mãos, percebi que tinha um copo na pia e aproveitei para tomar um copo dàgua.

Enchi o copo e quando fui beber...

Que susto!

Levei uma mordida no lábio superior, da dentadura da minha avó que ela deixava no copo, durante a noite, e eu não sabia.

Acho que ninguém sabia...

Eeeeeca!!!

 

terça-feira, 2 de junho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VI


Aventura em Peruíbe


Novamente, estava em Santos, no apartamento dos pais da Elayne e do Tico, e resolvemos fazer um passeio em Peruíbe.

Eu não conhecia as praias que ficam ao sul de Itanhaém, por isso, fiquei muito empolgada.

Quando chegamos à cidade, demos uma volta, e paramos na beira do rio, que diziam que tem lama negra, medicinal.

Tinham várias pessoas com máscaras de areia, e algumas até enterradas, só com as cabeças de fora.

Fiquei meio impressionada, quando eles me contaram a cena, pois, meu campo visual, não alcançava toda a extensão do cenário à nossa volta.

A “tia” Elza, mãe da Elayne, resolveu fazer uma vala para colocar as pernas dela, e da D. Conceição, sua mãe.

Nem sei o porquê. Nunca ouvi falar que elas tivessem reumatismo, ou qualquer coisa parecida.

A Elayne, comentou que seu pai estava do outro lado do rio.

Eu fui entrando da água, dizendo:

Vamos encontrar com ele?

Nem dei tempo para ela responder, e fui logo entrando no rio e nadando...

Alguns garotos que estavam por ali, começaram a mexer comigo, dizendo:

Não vá, meu amor...! Volte...

Eu comecei a sentir a correnteza do delta do rio, perto do mar, e senti um pouco de medo.

Os pensamentos passavam rápido pela minha cabeça: “Será que é melhor voltar?”

Mas fiquei com vergonha, com medo de encontrar com os moleques...

Depois pensei: “Bem, se o “tio” Alcides, atravessou, é porque não tem perigo”.

E continuei nadando, percebendo a correnteza, que me levava em direção ao mar, e por isso resolvi nadar em diagonal, para chegar do outro lado na direção certa.

No começo, pensei que a Elayne estivesse atrás de mim, mas...

Não estava.

Quando cheguei á outra margem, bem cansada, encontrei com o “tio” Alcides, me esperando, dizendo:

O que você está fazendo aqui, menina?

Ah... A Elayne falou que o senhor estava aqui, então resolvi vir também...

Ele falou assustado:

Mas, eu vim por aquela pontinha de madeira, ali. falou me mostrando a ponte, com um gesto de cabeça Nossa, você poderia ter sido levada pela correnteza, para o mar...

Bem, agora sabemos que podemos vir à nado... falei brincando, meio sem graça — E é mais perto. Vamos voltar nadando?

Ele topou, e voltamos nadando. Só que desta vez, eu estava bem mais segura em sua companhia.

Quando chegamos à outra margem, eu estava exausta, mas nem queria demonstrar, depois daquela travessura tão arriscada.

A Elayne, sua avó, Conceição, e a “tia” Elza, também tinham ficado bem assustadas, mas ficaram um pouco mais tranquilas, quando viram que eu estava voltando com o “tio” Alcides.

Ainda bem que não era a minha mãe, que estava com elas, senão, ela teria tido uml “treco”, ou então, tenho certeza que me daria um bom corretivo!

Merecido, naturalmente.

Reflexões

Para cima, e para o alto!



Se um dia, menino

A vida lhe pega

Andando sem tino

Caindo na pedra



Não fica, menino

Por causa da pedra

Como o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Um dia essa pedra

Com mêdo de alguém

Com o corpo em queda

Pode ir além

De um poço sem fim



Não fica, menino

Por causa da pedra

Com o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Silvann@____