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São Paulo, SP, Brazil
Uma deficiente visual (Retinose Pigmentar), que vê a vida, como um presente à ser desfrutado.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap XI


Carinhos Memoráveis

            Sempre me questiono. se nossos destinos. Realmente, já vêm traçados.
Se sim, também a existência do tal livre arbítrio
Mas, em algumas situações, paraceemos fantoches nas mãos da vida, que corre independente dos nossos planos e vontades
Este capítulo, é para registrar coisas que são, aparentemente pequenas, mas para mim, são inesquecíveis.
Minhas tias, consangüíneas ou não, tiveram uma grande participação na minha vida, e me deixaram lembranças maravilhosas.
Com a tia Virgínia, irmã mais velha da minha mãe, os interesses comuns eram infinitos: culinária, crochê, tricô, tapeçaria, etc...
As férias na casa de todas as tias, eram repletas de trocas, principalmente de declarações de amor...
Em uma dessas férias, passeando pelo centro de Caraguá, vimos uma mochila para levar à escola, super “transada”: ela era de lona cor de laranja, com detalhes acabamentos e alças  feitos de uma imitação de verniz preto.
Era maravilhosa!
Fiquei encantada pela mochila, mas a minha mãe, sempre com seu sentido prático, alegou que já tinha mais de uma mochila para ir à escola e foi saindo da loja, distraidamente, conversando com minha tia, sem perceber minha frustração.
Fiquei sonhando com a mochila.
Acho que  sem conhecer a PNL usei a técnica da mentalização, me vendo  chegando na escola, com aquela mochila linda...
A minha tia Virgínia, que tinha uma sintonia muito forte comigo, percebeu o quanto eu desejei aquela mochila, e deu seu jeitinho.
Um ou dois dias depois, no final das férias, quando já estávamos passando pela rotatória da entrada de Caraguá, ela deu uma desculpa qualquer  para passarmos pelo centro da cidade, e... Adivinha...?
Comprou aquela mochila linda, pra mim!!!
Ela disse que seria presente de aniversário adiantado, mesmo faltando 3 meses!
Nunca mais esqueci deste dia, e desta mochila, e principalmente da demonstração de amor da minha tia.
Ah, e quando eu operei a garganta, para tirar as amigdalas?
O médico recomendou que eu ingerisse sorvete e sucos gelados, mas eu não queria nada disso. Sentia dor e nenhum apetite.
A tia Virgínia me prometeu um presente, se eu tomasse um pouquinho de sorvete. Imagine, ter que prometer um presente à uma criança, se ela tomasse sorvete!
Só comigo mesmo, que não comia, nem gostava de nada, só macarrãozinho tipo aletria  (aquele que chamam de cabelinho-de-anjo), com manteiga.
Então, ela me deu um presente incrível, que fazia desenhos diferentes, e depois a gente podia pintar...
Era muito legal!

A tia Mechtilde, eu sempre chamei de minha mãe de leite, porque uma vez a minha mãe teve que viajar, para levar meu irmão para Minas, e eu ainda mamava no peito.
Era uma viagem curta, de um dia, ou dois, não tenho certeza, mas sei que, como o meu primo “Fabinho” tinha nascido dois meses antes de mim, a tia Mechtilde ficou comigo, e me amamentou.
Sempre adorei ouvir esta história.
Muitos anos depois, já formada há 5 anos em Arquitetura, resolvi fazer hotelaria para me especializar em Arquitetura de Hotéis..
O curso era no SENAC, prócimo ao Mackenzie, e nós maravamos em Poá, .
Fui ficando muito cansada de viajar todos os dias e ainda estudar bastante, pois o curso não era nada fácil...
Também tinha a questão da visão limitada, e uma coisa que me assombrava, era que eu poderia ter qualquer imprevisto, com as conduções, e escurecesse antes que eu chegasse em cada, em segurança.
Algumas vezes, com a chegada do inverno, e o dias ficando mais curtos, minha mãe teve que me encontrar no ponto de ônibus, já tinha escurecido.
Quando meus tios, Fábio e Mechtilde, ficaram sabendo que eu estava estudando em São Paulo, conhecendo bem minhas dificuldades, por conta da deficiência visual, me convidaram para morar com eles, enquanto durasse o curso, pois moravam em Perdizes, com acesso fácil para o SENAC, na Rua Dr Vila Nova.
Combinamos que eu ficaria lá, apenas alguns dias da semana, para não me tornasse muito invasiva.
Foi um período muito gostoso.
Além de conviver mais com meu primo, tão amigo e companheiro, ainda recebia dele o maior apoio logístico, com caronas frequentes, ou companhia até o ponto do ônibus, na Rua Cardoso de Almeida.
Isto aconteceu, tanto no período do curso, quanto no período do estágio na Paulista.
Minha prima e comadre, Mara, também morava no bairro, e esta proximidade também me fez muito bem, pois podíamos nos ver frequentemente.
A convivência, com a tia, me trouxe uma bagagem e tanto.
Ficavamos horas, na cozinha, conversando, falando de relacionamentos, psicologia, sentimentos, culinária, etc...
Momentos inesquecíveis, como muitos outros, que ficaram marcados, por fazerem com que eu me sentisse tão amada...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap X


Acho que não vi o gatinho...

 

As casas, da minha avó e do tio “Filico”, sempre foram a extensão da minha e eu conhecia cada canto, cada degrau e por isso circulava por elas com desenvoltura como se visse tudo, normalmente.

Um dia, quando estava saindo pela porta da cozinha, que tinha dois degraus, pisei em uma coisa diferente, e quase caí.

Percebi que a gata, da minha prima Nancy, estava amamentando seus filhotes e um dos gatinhos andava, trôpego, cambaleando...

Corri, desesperada, para minha casa, chorando...

Cheguei, afogueada, pedindo ajuda, dizendo:

A... A... Acho que... Matei um gatinho...!

Meu pai, acabando de chegar do trabalho, falou que iria comigo ver se o gatinho estava bem, e disse:

— Calma... Gatos tem sete vidas...

Quando ele estava acabando a frase, minha avó Anna, entrou esbaforida, falando:

Ai, sabe que mataram um dos gatinhos, degolado...?

Caí no choro novamente, desesperada.

Quando a minha avó percebeu que fui eu quem pisou no gatinho e tentou contornar a situação, já era tarde, não dava mais para consertar.

Fiquei com um sentimento de culpa que carrego até hoje, embora tenha consciência de que não foi proposital, uma sensação de tristeza sempre vem à tona quando me lembro deste incidente.

Os bichinhos, são bênçãos da natureza.

  

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap IX - 2ª Parte


Nancy – 2ª Parte

 

Uma vez, resolvemos pegar o sol da tarde, na praia de Barequeçaba, em São Sebastião.

Quando ela parou o carro, desci conversando com ela, olhando sobre o carro, e com um passo atrás... Caí em uma canaleta construída entre a calçada e a guia.

A Nancy me viu, simplesmente sumir diante dos seus olhos, e eu, ainda tive sorte de cair com uma das pernas dobradas, que fez com que eu não entrasse com o corpo todo naquele buraco.

Uma verdadeira armadilha para deficientes.

Outra vez, fomos ao centro da cidade para comprar um maiô.

Como sempre, apenas mencionei que estava precisando comprar um maiô, e ela logo se prontificou em me levar:

— Vi uns modelos lindos, lá no centro de São Sebastião... Se você quiser, podemos ir até lá, depois do almoço...

Nos arrumamos e fomos às compras.

Ela parou em frente uma loja de moda, e eu percebi que tinha uma vitrine.

Desci do carro, e fui andando em direção á loja, e ela me disse, aflita:

— Não, Sil! Aí, não! Vamos atravessar a avenida...

Ela me estendeu a mão, e pequei em seu braço para atravessarmos a avenida.

Descemos a guia e percebi que tinha faixa de pedestres. Ouvi uma moça no carro que passou bem perto  da gente, falando qualquer coisa, alto, beio brava...

Enquanto atravessávamos a avenida, perguntei:

— Aquela moça estava falando com a gente?

— Ahn...? moça...?Que moça? — ela falou distraída...

— A moça do carro... — eu disse, começando a perceber que ela, desligada, nem tinha percebido nada.

— Ahn...? Carro...? Que carro...?

Chegando do outro lado da rua, ela me falou:

— Levanta! Levanta!

Eu não sabia do que ela estava falando.

— Levanta o que, Nan?

— Levanta o pé, para subir na calçada!

Era óbvio. EU é que não estava na sintonia dela, claro?

Nesse momento, senti com meu pé, a guia rente a calçada, e subi logo atrás dela.

O deficiente sempre está à um passo atrás, para que a gente sinta de o acompanhante para, sobe ou desce um degrau...

Um guarda veio ao nosso encontro e perguntou:

— Vocês não viram o semáforo?

A Nancy olhou para ele, como se ele tivesse falando outro idioma:

— Ahn...? Semáforo...? Que semáforo...? — ela perguntou.

— Este aqui. — Falou o guarda, olhando para o alto do poste, com toda a paciência do mundo — Estava vermelho pra vocês.

Então me lembrei:

— Ai, Nancy, por isso que a moça passou xingando... Ela estava falando com a gente!

Caímos na risada, agradecendo e nos desculpando com o guarda.

Chegamos na loja, ainda rindo da situação, e ela me ajudou a escolher um maiô lindo: preto, com um recorte pequeno no busto de uma estampa floral, bem delicada e um zíper no decote.

Desde quando eu era , pequena, quando ela inventava estórias para nos contar, a Nancy fazia, e ainda faz, com que eu sinte, que todos os momentos que passamos juntas, se tornem especiais.

Parece que me leva para outro planeta, onde tudo é bonito, colorido, perfumado e bom.

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap IX - 1ª Parte


Nancy - 1ª Parte


Não sei bem se ela é minha prima...
Para mim, é minha irmã.
Irmã de sangue...
Irmã de alma...
É uma sábia; que pra gente parece que vai para outra dimensão com mais facilidade do que qualquer monge tibetano com prática em meditação em alcançar o Nirvana em poucos segundos...
Fico impressionada com a capacidade que tem em me surpreender, com seu jeito displicente, natural, e com tanta sabedoria, me deixando grandes ensinamentos.
Não só pelo seu jeito de ver o mundo, por tudo que compartilhamos...
Não só por morarmos tão próximas, mas pela simples e tão importante, afinidade.
Quando não passávamos as férias todas juntas, na casa de praia dos seus pais, em São Francisco da Praia (São Sebastião), a gente sempre dava um jeito de passar ao menos alguns dias, juntas.
Assim como convivemos naturalmente com a deficiência física do seu irmão, Eloy, eles também encaravam com naturalidade a baixa visão do meu irmão e a minha.
Nós compartilhavamos tudo, e quando ela aprendeu a dirigir, ensinou a gente, também.
Eu, mal conseguia alcançar os pedais da  Kombi, do meu tio, e mesmo assim, ela não pestanejou quando pedi para tentar, depois do meu irmão.
Um bom argumento, para meus pais que souberam só quando voltamos da aula de direção, foi:
—E se alguém passa mal dirigindo...? — falei, com segurança— Preciso, no mínimo, saber enconstar o carro em um lugar seguro, para esperar ajuda...
Acho que, ao longo da minha vida, fui desenvolvendo a capacidade de argumentar e a perseverar, diante das adversidades.
Fui me tornando mais determinada e considerando a perseverança um caminho natural para alcançar meus objetivos.
Também desenvolvi um bom senso de orientação;  todas as vezes que saímos juntas, ela me pergunta qual o melhor caminho. Eu vou indicando, e ela segue com a maior segurança, pois, na grande maioria das vezes, eu acerto.
Meu marido, quando nos conhecemos, achou isto tão inacreditável, que quando eu fui ensinar o caminho para a minha casa, ele  não confiou, e se perdeu.
Já tinha escurecido.
Ele resolveu voltar atrás e seguir minhas orientações, e só assim, deu tudo certo.
Muita gente hoje em dia, se admira ao saber que eu aprendi a dirigir.
Uma vez, pedi a um namorado, para me dar uma prova de confiança, e me deixar dirigir na serrinha que fica entre São Sebastião e Caraguatatuba.
Ainda por cima, cruzamos com um carro da polícia rodoviária, que diminuiu a velocidade, e desconfiada, quase retornou atrás de nós.
Eu continuei, firme, demonstrando confiança, e eles seguiram seu caminho.
Quando chegamos na casa de Caraguá, meu namorado estava com uma enxaqueca que durou dois dias!!!
Ninguém ficou sabendo o motivo...
Outro dia, minha amiga Lena, me deu outra prova de confiança: eu disse que tinha sonhado que não sabia mais dirigir, e gostaria de tentar, novamente, e ela me ofereceu seu carro (novinho!), para que eu tentasse e tirasse essa dúvida.
E as lições da Nancy, voltaram nitidamente e eu fiz tudo direitinho!
Muitas vezes, percebo que nem as pessoas que convivem comigo, tem a noção exata de como eu enxergo.
Talvez, nem eu mesma, já que o quadro vem se agravando e quando me dou conta, não consigo mais ler ou fazer algum trabalho manual, com a facilidade de antes.
Ao contrário. A dificuldade é surpreendente.
Por isso estava lembrando de duas coisas que aconteceram quando eu estava com a Nancy, dentre milhares de outras.

(Continua no próximo post)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VIII - 2ª Parte


                                                     Eloy - 2ª Parte

Assim que eu subia no barco, pulava de novo, e repeti isso, por várias vezes.

Subia, e pulava...

Subia, e pulava...

Que delícia!!!

Quande voltei para a praia, a minha mãe estava quase tendo um “treco”, e acabei levando umas palmadas na b...

 Outra coisa que sempre me lembro, é que, quando tive caxumba, estávamos lá, de férias, e fiquei o tempo todo, deitada no sofá do Eloy, aconchegada nele, olhando para o mar...

A minha mãe ficava preocupada, porque ele nem se mexia, quando percebia que eu tinha adormecido, de medo que eu acordasse.

Ele era mesmo muito especial.

Um dia, meu tio teve a grande idéia de construir um piscina, na casa de Poá, já que o Eloy gostava tanto de ficar na àgua, nos dias de muito calor, com a gente à sua volta.

Foi uma idéia e tanto.

“Curtimos” muitos momentos bons, com ele, naquela piscina, que não tinha a menor graça, quando ele não estava.

Um dia ouvi uma conversa de que os médicos disseram para os meus tios, de que o Eloy não passaria da adolescência, porque ele dependia de remédios cada vez mais fortes, para relaxar a rigidez dos músculos.

Isso me deixou “sem chão”.

Perdida.

Nessa época, ele já tinha mais de vinte anos.

Tinha sido alfabetizado em casa, com um raciocínio lógico incrível, privilegiado, e com isso até me ajudava nas lições de casa.

Ele já tinha passado da adolescência, e isso fez com que mais uma vez, eu pensasse: só Deus é dono de nossas vidas, do nosso destino.

Como sua adolescência já havia passado, percebi que não precisava me preocupar com a sentença de um médico falível, como qualquer ser humano.

Mas eu vivia com medo de perde-lo, e principalmente, de como seria...

Quando já estávamos um ano, na casa nova, construída no lote ao lado da casa antiga, também em frente à praça José Guida, cheguei da faculdade, e soube que a minha mãe tinha ido pra São Paulo com a minha tia Yolanda, e o meu tio “Filico”, os pais do Eloy.

Elas sempre aproveitavam a carona do meu tio, que ia buscar as fitas, como ele chamava os rolos de filmes, para o cinema.

Chegando da faculdade, resolvi ir até a casa dos meus tios, para almoçar, como sempre fazia quando minha mãe ira com eles para São Paulo, pois, a empregada sempre fazia almoço pra todos: Eloy, Nancy, meu irmão e eu, minha avó, etc...

Assim que cheguei, a empregada veio encontrar comigo, assustada, dizendo que o cuidador estava dando comida para o Eloy, e ele dormiu.

Simplesmente fechou os olhos, e não acordava.

Ela disse sussurrando bem perto de mim, com os olhos arregalados:

— Acho que ele morreu.

Fiquei paralisada.

Aos 33 anos, e durante o almoço, simplesmente fechou os olhos, e se libertou daquele corpo que o aprisionava.

Chegou o dia que eu tanto temia.

O momento que me assombrou durante tantos anos, tinha chegado.

Atravessei a sala de jantar, sem coragem de olhar para a minha direita, onde eu poderia ver o Eloy, em seu quarto, recostado no seu lugar, no sofá.

Fui até a sala de TV, e me afundei no sofá de couro vermelho, com mil coisas passando ao mesmo tempo pela minha cabeça.

Cheguei rapidamente à conclusão de que a prioridade seria contar com muito jeito, pra Nancy, que estava grávida de 5 meses, entrando pela varanda dos fundos, com portas para a sala de jantar...

Eu só queria tira-la de lá, antes que ela percebesse sozinha o que estava acontecendo. Então, chamei uma prima, que morava entre a casa grande e a minha, pedindo, sutilmente,  para que me ajudasse, a dar a triste notícia.

Infelizmente, nossa suspeita se transformou em certeza.

A Nancy começou a chorar baixinho, encolhida como um bichinho ferido, e nós, pedíamos para que ela se acalmasse, e por causa do bebê.

Ela tinha que se esforçar para reagir.

Eu não sabia se chorava por mim, por ela, ou com ela.

Ele foi um professor, que me deu grandes exemplos e lições de vida.

Fiquei pensando em como avisar os meus tios, mas me falaram que alguém já havia ligado para a companhia distribuidora dos filmes, localizando meu tio, comunicando o triste acontecimento.

Meu tio teve que ouvir isso por telefone.

A minha mãe,  estava com a minha tia em uma loja, da Rua 25 de março, comprando tecidos.

Como sempre fazia, pediu para usar o telefone para ligar para o meu tio, na companhia distribuidora, e confirmar o horário que ele iria pegá-las para voltar pra casa, em Poá.

A minha mãe, viu minha tia voltando do fundo da loja, pálida e cambaleante, e foi ao encontro dela, perguntanto o que tinha acontecido.

Minha tia mal conseguia falar:

— Quando perguntei pelo “Filico”, eles logo me disseram que ele já sabia que o filho tinha morrido.

A minha mãe, atônita, disse que devia ser um mal entendido, para ela ficar mais calma.

Quando, finalmente encontraram com meu tio, na hora e lugar de sempre, ao entrarem no carro e olharem para ele, constataram a verdade.

Imagino como deve ter sido aquela viagem até Poá.

A mais longa e demorada de suas vidas.

O que nos consolava, é que o Eloy se libertou daquele corpo que o aprisionou durante toda a sua vida.

Novamente, me veio à cabeã. Qie ele era tão especial, cercado por tanto amor e dono de tanta sabedoria, que tenho certeza que nunca se  sentiu um cárcere.

E isso é o que mais importa.

Infelizmente, isso não foi consolo suficiente para o meu tio, que perdeu sua alegria de viver, e morreu exatamente 3 meses depois.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VIII - 1ª Parte


Eloy - 1ª Parte

 

O Eloy e a Nancy, sempre foram mais do que primos, pois, fomos criados juntos.

Eles, moravam na casa grande, da esquina, e nós, duas casas depois, mas no mesmo terreno com acesso por trás da casa do tio Fábio, que ficava entre as duas casas.

O Eloy era tetraplégico, e como sempre convivi com isso, criada com ele, para mim, isso era tão natural como a minha deficiência visual.

Até bem pouco tempo, eu não tinha me dado conta que eramos diferentes: deficientes.

Muito pelo contrário.

Eu me sentia privilegiada por morar em um lugar tão, gostoso, com horta, pomar, quadra e piscina.

Tudo era natural.

A maioria das minhas lembranças são ligadas aos momentos que passei com esses meus primos.

O fato do Eloy ser tetraplégico, em nenhum momento fez com que eu o visse diferente.

Talvez eu tivesse perguntado sobre isso quando era muito pequena, e a resposta deve ter sido satisfatória, para uma criança, que se contenta com explicações simples.

Uma vez, me lembro de ter perguntado se ele nasceu assim, e a minha avó me disse que, só perceberam quando ele atingiu a idade de começar a sentar, engatinhar, e seu corpo não se sustentava sozinho.

Sempre fez parte da minha rotina, ficar com ele, saber como tinha passado a noite, ou correr comportilhar alguma coisa que tinha me acontecido...

Muitas vezes, cheguei na casa deles, antes mesmo de acordarem, e ele ainda estava ma cama, para onde só ia  na hora da dormir.

Ele passava o dia, em um sofé-cama que ficava no quarto dele, seu oásis, que tinha tudo o que ele gostava: gravador de rolo para ouvir suas músicas preferidas, a primeira TV da casa, um grande aquário, um enorme vitro, que dava para o jardim, que pegava quase toda a parede, e permitia uma visão panorâmica do jardim da frente da casa e para praça, do outro lado da rua.

A posição que ele ficava, era mais ou menos a mesma: com a perna direita quase esticada, e outra quase totalmente dobrada para trás, ao longo do corpo.

Os braços também tinham as posições parecidas, tanto de bruços como recostado nos travesseiros, no sofá-cama.

Ele tinha um cuidador, que o carregava da cama para os sofá, ajudava nas necessidades fisioiógicas, no banho, vestia suas roupas, dava água em uma espécie de garrafinha com canudo, comida, ajeitava seus três travesseiros quando estava sentado, ou o virava de bruços quando se cansava de ficar na mesma posição.

O quarto dele, era incrível! Lindo, iluminado, alegre... Com duas paredes pintadas de verde claro, mas vibrante, e duas com papel de parede texturizado, em verde bandeira.

Tinha duas portas, uma em frente à outro.

Uma, com saída direta para a lateral do jardim, e a outra para o corredor interno da casa.

As portas eram envernizadas, com batentes pintados de branco, e tudo combinava perfeitamente com a colcha da cama e as cortinas do mesmo estampado com vários tipos de folhas e tons de verde.

Sua cama, foi feita sob medida, imitando um sofá, que durante o dia, era decorada com almofadões e na cabeceira, dois interruptores embutidos: um, para acender a luz, e outro, para acionar uma campaínha, caso ele precisasse de ajuda durante a noite.

Por ser deficiente físico, seu mundo se resumia, praticamente, àquele quarto.

Eu sempre queria fazer alguma coisa por ele, mas não era muito recomendável, pois, um dia fui pôr um bombom na sua boca, e naquele exato momento, pousou um mosquito!

Ele me disse que comeu com mosquito e tudo!

Ai, meu Deus!

Até hoje, ainda penso nisso, em dúvida: “será mesmo que o mosquito não voou para fora, antes dele fechar a boca?”

Durante muito tempo, sem acreditar, eu perguntei se ele não tinha me enganado, se ele tinha engolido mesmo o mosquito, mas infelizmente, ele nunca mudou sua versão da história.

Acabamos rindo da situação.

Foi depois daquilo, que descobri que ser cuidadora, não é bem “a minha praia”.

Ele foi meu companheiro em todas as horas,

Gentil, sensível, com uma sabedoria incrível, e um enorme bom-humor.

Não me lembro de nenhum dia que ele estivesse de “baixo astral”. Ao contrário, estava sempre nos pondo ”levantando a nossa bola”!

Acho que ele foi um dos grandes responsáveis, pelo fato de eu sempre olhar o lado bom da vida, por pior que as coisas possam parecer.

Depois de muito tempo, questionei, se ele alguma vez, se sentiu frustrado por ver a gente, meu irmão e eu, aprendendo andar de bicicleta, passando pela porta de saída do seu quarto, e pelo jardim em frente a parede envidraçada, e pedindo para ele nos ajudar a contar quantas voltas deu cada um. Não só para não haver injustiça, mas também, como forma dele participar das nossas brincadeiras

Tenho muitas lembranças gostosas dos momentos que passei com ele, até jogar dama, ela jogava, indicando para nós, a peça que ele queria movimentar, e na maioria das vezes, ele ganhava, o danado!

Era muito inteligente.

Ele tinha amigos que tocavam violão e a gente cantava junto...

Quando a Nancy, sua irmã, começou a tocar violão, foi uma delícia.

A casa de praia, em São Francisco da Praia, em São Sebastião, fica encrustrada entre a BR 116 e o mar.

Meu tio comprou esta casa, principalmente, para lhe proporcionar mais uma alegria, e eu, assim como meu irmão e meus pais, estávamos sempre por lá.

Foi ao lado dele, que aprendi a nadar.

O cuidador o levava no colo, com uma bóia de borracha preta, de pneu até o mar, e colocado em uma bóia feita de câmara de pneu, e eu ia junto, aprendendo a me mexer na àgua e direcionar a  minha bóia.

Lá, o mar é calmo, porque fica no canal entre a São Sebastião e a Ilhabela, e por conta disso, quase não tem ondas.

Isso facilitou muito para que aprendêssemos a nadar, mergulhar, etc...

A minha mãe, quase morreu do coração, quando um dia, resolvi ir até o barco, atrás do meu tio, que nadava ao lado do pequeno barco de motor de popa, ancorado no fundo, em frente à casa, e do Eloy, em sua bóia.

Meu irmão e a Nancy, que estavam no barco, me ajudavam a subir, para que eu pulasse, de bóia, de volta pra agua. Eu já fazia isto, antes mesmo de aprender a nadar sem a bóia.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A vida por 1 ponto de vista - Cap VII


A casa da vovó Anna

 

As lembranças mais marcantes da minha infância, estão intrinsecamente ligadas às 3 casas: a dos meus pais, a da minha avó paterna, Anna, e a do tio “Filico”, irmão do meu pai.

Isto porque, elas faziam parte do mesmo lugar, que foi subdividido, mas era uma só propriedade, dos meus avós paternos.

Infelizmente, meu avô faleceu 2 meses antes do meu nascimento.

Esse lugar, atualmente, poderíamos chamar de um condomínio familiar, de casas; com a diferença, de que uma parte área pertencia ao meu tio Vicente, irmão mais velho do meu pai, que morava em São Paulo. O terreno era foi transformado em pomar, milharal, horta e uma quadra onde aprendi a andar de patins e que a família e amigos usavam para jogar tamboréu, uma espécie de tênis, nos finais de semana. Houveram até campeonatos...

Um senhor, que chamávamos de “seu” Salvador, cuidava dos plantios e das colheitas, levava as verduras e frutas já limpinhas, para a minha avó, minha tia e minha mãe.

A casa grande, dos meus avós, fica na esquina da Rua Vicente Guida (nosso bisavô), com a Praça José Guida, em homenagem ao meu avô, quem  doou uma parte triangular do seu terreno, para que a prefeitura passasse uma avenida e construísse esta praça.

Meu tio Fábio com seus infinitos dons artísticos, desenhou o projeto dessa praça, em formato triangular com um traçado incrível, com caminhos sinuosos, que circundavam canteiros com plantas, árvores e um grande caramanchão central.

 Neste caramanchão com pilares de sustentação das vergas trabalhadas como esculturas, subiam trepadeiras, que estavam sempre carregadas de flores amarelas, se não me engano, chamadas de: adamandas ou alamandas.

Era lindo, mas infelizmente o caramanchão foi destruído, e a praça, descaracterizada.

É uma pena que no Brasil, temos tão poucas pessoas que respeitam e preservam a história.

Eu ainda sonho com a reconstrução daquele caramanchão, e a recupuração daquela antiga praça que faz parte não só da minha história mas de histórias de muitas famílias que usufruiram do ambiente mágico daquela praça.

No mesmo terreno da casa grande, do meu avô, foram construídos ao longo da rua lateral, a rua Vicente Guida, a casa do caseiro e uma garagem, com saídas independentes; um salão de jogos e um galinheiro com acesso por dentro da propriedade mas construídos no limite da rua.

O galinheiro era construído na parte lateral do salão de jogos, com três paredes de alvenaria e fechado por um alambrado com um portão central.

No fundo, um tipo de viveiro suspenso para proteger as galinhas e seus ovos, da depedração dos gambás e outros animais que costumavam ataca-las durante a madrugada.

O acesso das galinhas ao viveiro, era feito por uma espécie de rampa de madeira com mini-degraus, que as galinhas usavam no final da tarde para se recolher aos seus ninhos.

Meu tio Vicente, projetou um sistema que, quando elas botavam os ovos, eles rolavam para um local abaixo com uma forração de palha, fechado e protegido, com um acesso fácil para que a minha avó pudesse recolher os ovos.

Eu gostava muito de ouvir a minha avó contar sobre um cachorrinho, da raça fox paulistinha, que a ajudava a pegar a galinha escolhida: ela só ameaçava pega-la, e o cachorrinho a perseguia em meio a todas as outras galinhas, e a segurava, debruçado com as duas patas dianteiras sobre ela, esperando que minha avó a pegasse.

Quando meu avô morreu, foi feita a divisão do terreno, e essa parte ficou para o meu tio “Filico”, e para a minha avó não perder a sua independência e privacidade, foi contruída uma casinha muito charmosa, para ela.

Um verdadeiro bangalô,  gostoso e aconchegante.

A janela do quarto e o vitrô da sala, com uma linda jardineira de gerânios vermelhos, recebiam o sol da manhã. Eram voltados para o leste, onde fica a casa grande, que tinha um terraço, e entre eles uma espécie de átrio, com uma grande figueira rodeada por um canteiro de lírios amarelos.

O muro baixo com pilares pequenos, robustos e trabalhados em cimento, foi feito apenas em uma pequena extensão das laterais, até a direção onde começava a casa gramde, e na parte da frente, com um portãozinho baixo, para a entrada social da casa grande, pois ficava em frente à praça.

Na continuação das divisas laterais, rua de um lado e terreno do tio Fábio do outro, uma mureta baixa com alambrado, apoiava uma linda cerca-viva de hibiscos vermelhos, e no chão, escondendo a pequena mureta, um canteiro de lírios amarelos acompanhava toda a cerca-viva.

Apenas do lado da casa da minha avó, no final da cerca-viva, tinha um portão de acesso à rua. Era esse o portão mais usado, pois era o mais próximo à casa grande e a da minha avó, e principalmente à garagem onde meu tio guardava o carro.

Outra figueira ficava na direção da janela do quarto da Nancy, minha prima e dava uma deliciosa sombra, para uma grande mesa e um banco esculpidos em cimento, todo rebuscado, pelo meu avô.

Hoje eles enfeitam um recanto no jardim dos fundos da casa da minha mãe, como verdadeiros troféus, com valor estimativo incalculável.

A entrada da sala da casa da minha avó, tinha uma espécie de hall aberto, ou uma micro-varanda, que protegia a porta e tinha uma minúscula jardineira de gerâneos vermelhos, como aquela que ficava embaixo do vitrô da sala.

Ah... Eram lindos...!

Tanto no pilar da mini-varanda, como na grande figueira, foram colocados ganchos, onde a minha avó estendia uma rede e ficávamos ouvindo rádio, aprendendo alemão, ou simplesmente conversando.

Eu adorava ouvir as histórias que a minha avó nos contava...

Nas partes pavimentadas entre esse jardim e o da frente da casa grande, as partes pavimentadas nos permitiam andar de bicicleta, e até, de patins.

Foi neste lugar que aprendi a andar de bicicleta, em uma Hercules, enorme, preta, linda... da Nancy.

Era tão grande, alta, e eu, tão pequena e franzina, qua mal alcançava os pedais, e o guidom ao mesmo tempo.

O selim, então, nem pensar. Ou eu sentava, ou pedalava.

Âs vezes eu dava bastante impulso e depois em uma parte que tinha um discreto aclive, eu sentava no selim, e até arriscava a colocar os pés no guidom, e “curtia” o vento batento no meu rosto...

Ah, que delícia...

Isto é felicidade!!!

Muitas vezes, tentava andar em uma bicicleta do “Luisão”, o cuidador do meu primo, Eloy.

Era daquelas bicicletas masculinas, com cano no meio.

Foi assim, com ele, que eu e meu irmão, começamos a aprender a andar de bicicleta. Logo depois, no  Natal, ganhei a minha tão sonhada  bicicleta, com rodinhas, mas eu não conseguia confiar nelas...

Nos jardins daquela casa, todos os espaços que não tinham árvores, canteiros e gramados, tinham espaços grandes e caminhos, melhores e muito mais interessantes do que uma simples ciclovia.

Foi lá também, que aprendi a andar de patins.

Na quadra, não tinha onde me apoiar, já que era rodeada por gramado, então, até pegar um pouco de segurança, eu me apoiava nas paredes da casa, e andava na calçada que a rodeava.

Muitas vezes, de bicicleta, subíamos no gramado e contornávamos a arvore e o caramanchão...

A minha avó ficava uma “fera”, pois, não era preciso estragar o gramado, com tanto espaço disponível...

Agora sei, que criança é assim: sempre tem que buscar algo além do que os adultos já permiriam.

O grande gramado do jardim da frente da casa, era dividido por um caminho que levava até o portão principal, da frente da cssa, e em frente a praça.

No centro de um dos espaços gramados, tinha uma grande árvore,, redeada por um canteiro, e do outro, um caramanchão um pouco menor do que o da praça, também esculpido pelo meu avô, com uma mesa redonda, e um pé central, todo trabalhado, rodeado por um banco em semi-circulo, cujo encosto era a mureta toda trabalhada, do próprio caramanchão, que ficava no meio de um canteiro de hortênsias brancas.

Até a escadinha de quatro degraus, que dava acesso ao caramanchão, tinha corrimões laterais com balaústres trabalhados em cimento.

As trepadeiras de flores amarelas, subiam também ali naqueles pilares e vigas, quase formando um telhado de troncos, folhas e flores.

A garagem do meu tio, era incrustrada entre a casa da minha avó e a do caseiro, e tinha uma janelinha redonda, alta, com tela, na parede dos fundas da garagem, e da cozinha da minha avó.

Esta abertura permitia que eles se ouvissem, e conversassem rapidamente, caso ela estivesse na cozinha e ele, na garagem.

Ele chamava primeiro na frente, e se ela não respondesse, depois que saía pelo portão lateral, abria a grande porta da garagem, e a chamava por lá.

A gente ouvia ele erguer a grande e barulhenta porta de ferro da garagem e chamando a minha avó.

Até hoje, consigo me lembrar bem da voz do meu tio, o som da porta da garagem subindo...

Realmente o deficiente visual tem a vantagem de ter uma lembrança auditiva muito presente.

Ainda consigo me lembrar com nitidez, meu tio dizendo:

—Mãe...? ‘Tô saindo... Precisa de dinheiro...? Quer alguma coisa da rua...?

Ou:

—Mãe...? ‘Tô chegando!

Frequentemente, ela ficava esperando ele voltar.

Meu irmão e eu, dormíamos na casa da minha avó, frequentemente, e tentávamos esperar  pelo meu tio, acordados.

Meus tios e minha avó sempre nos acompanhavam até nossa casa, depois de anoitecer. Mas, muitas vezes, por estarmos juntos, meu irmão e eu dispensávamos a ajuda.

Assim  iamos os dois sem enxergar, pela calçadinha que ficava entre o milharal e os fundos da casa do tio Fábio, e terminava em um portãozinho nos fundos do terreno da nossa casa.

Meu irmão, talvez sem querer admitir seus próprios medos, me dava coragem, e dizia:

— Vamos cantamdo, como a vovó ensinou. Assim a gente não vai sentir medo. Ela dizia: “Quem canta, seus males espanta”.

E a gente interpretava como:

— Quem canta, está protegido de tudo..,

E assim, íamos cantando até chegar no portãozinho dos fundos do nosso quintal.

Ao lado direito um viveiro enorme, aonde tínhamos um papagaio, que sempre que a minha avó passava por ali, ele anunciava, com aquela voz rouca e estridente:

— ‘Vó Anna...? ‘Vó Ana? — ele chamava.

Uma manhã, minha mãe entrou chorando na cozinha, dizento que uma raposinha, ou um gambá, tinha atacado nosso querido “Louro” e deixado apenas sangue e penas espalhados por todo o viveiro.

Coitado!

Entre este viveiro e a casa tinha um caminho em curva, calçado, que dividia dois gramados: um, que tinha duas colunas de madeira, pintadas de vermelho. Cada coluna sustentava um viga, que  servia como base para vários fios de varal, e ao lado esquerdo uma cerca viva com hibiscos vermelhos que fazia divisa com o terreno da casa do tio Fábio; a parte com grama. servia como quarador.

O gramado do lado direito, tinha um balanço e o caminho para o galinheiro, que ficava entre a garagem e os fundos do terreno.

É incrível, que com tão pouca visão, me lembro de tantos detalhes, até a moldura do balanço, feita pelo meu pai, que assim como a base dos varais, era pintada de vermelho, combinando com as janelas e portas da casa para contrastar com o branco das paredes.

No escuro, víamos apenas as luzes, que vinham do vitro e da porta da cozinha que ficava sempre aberta.

Nesse momento já chamavamos pela minha mãe, avisando que estavamos chegando, e ela normalmente respondia, feliz e aliviada com nossa chegada, às voltas com a preparação do jantar...

Nós gostavamos muito, quando meus pais deixavam a gente dormir na casa da minha avó.

Quando meu tio voltava do trabalho, nos cinemas, passava pela casa dela e sempre que estavamos com ele, o clima era de festa... De farra...

Ele administrava um cinema em Poá, e outro em Suzano e ia quase todas as vezes, de um para o outro, na hora de abrir, e voltava para lá, quase na hora de fechar.

A gente sempre comentava, e admirava, a paciência dele, em tirar as roupas confortáveis, se arrumar todo para ir trabalhar, trocar de novo, para ficar em casa, e se arrumar de novo para fachar os cinemas.

Para mim, a casa deles era uma extensão da minha.

Só, que muito mais movimentada. Mais animada, pois meu tio era sempre muito divertido.

Eu ia depois do almoço, ver os meus primos, e assistir televisão com eles.

Assistíamos com ele, na TV: A feiticeira, Jeannie é um gênio, Agente 86, etc...

Era uma rotina deliciosa.

Inesquecível.

Meus pais sempre contaram que, contruiram a casa que fui criada, cuidando de cada detalhe, aos poucos, do jeitinho que eles sonharam.

Mas, assim que ela ficou pronta, minha tia, casada com meu tio Vicente, o mais velho e mais respeitado, pediu para que meus pais cedessem a casa deles, por uns tempos, para o tio “Filico” e sua família, para que o Eloy, meu primo paraplégico tivesse mais conforto.

Minha mãe, com sua generosidade inata, nem pestanejou, e meu pai a admirou ainda mais, por sua atitude tão altruísta.

Não me lembro desta fase, nem com quantos anos eu estava, quando fomos morar na nossa casa.

Todas as lembranças de infância, já são de quando morávamos na nossa casa, e meus tios e primos, na casa grande, da esquina, que tinha sido dos meus avós, e passado por algumas reformas.

Uma das coisas que mais gostávamos, era de dormir na casa das nossas avós...

Uma vez, na casa da vovó Anna, levantei de noite pra fazer xixi, e nem acendi a luz.

Estava tão acostumada com a casa...

Quando fui lavar as mãos, percebi que tinha um copo na pia e aproveitei para tomar um copo dàgua.

Enchi o copo e quando fui beber...

Que susto!

Levei uma mordida no lábio superior, da dentadura da minha avó que ela deixava no copo, durante a noite, e eu não sabia.

Acho que ninguém sabia...

Eeeeeca!!!

 

Reflexões

Para cima, e para o alto!



Se um dia, menino

A vida lhe pega

Andando sem tino

Caindo na pedra



Não fica, menino

Por causa da pedra

Como o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Um dia essa pedra

Com mêdo de alguém

Com o corpo em queda

Pode ir além

De um poço sem fim



Não fica, menino

Por causa da pedra

Com o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Silvann@____