Nancy – 2ª Parte
Uma vez, resolvemos pegar o sol da tarde,
na praia de Barequeçaba, em São Sebastião.
Quando ela parou o carro, desci
conversando com ela, olhando sobre o carro, e com um passo atrás... Caí em uma
canaleta construída entre a calçada e a guia.
A Nancy me viu, simplesmente sumir
diante dos seus olhos, e eu, ainda tive sorte de cair com uma das pernas
dobradas, que fez com que eu não entrasse com o corpo todo naquele buraco.
Uma verdadeira armadilha para
deficientes.
Outra vez, fomos ao centro da cidade
para comprar um maiô.
Como sempre, apenas mencionei que estava
precisando comprar um maiô, e ela logo se prontificou em me levar:
— Vi uns modelos lindos, lá no centro de
São Sebastião... Se você quiser, podemos ir até lá, depois do almoço...
Nos arrumamos e fomos às compras.
Ela parou em frente uma loja de moda, e
eu percebi que tinha uma vitrine.
Desci do carro, e fui andando em direção
á loja, e ela me disse, aflita:
— Não, Sil! Aí, não! Vamos atravessar a
avenida...
Ela me estendeu a mão, e pequei em seu
braço para atravessarmos a avenida.
Descemos a guia e percebi que tinha
faixa de pedestres. Ouvi uma moça no carro que passou bem perto da gente, falando qualquer coisa, alto, beio
brava...
Enquanto atravessávamos a avenida,
perguntei:
— Aquela moça estava falando com a gente?
— Ahn...? moça...?Que moça? — ela falou distraída...
— A moça do carro... — eu disse,
começando a perceber que ela, desligada, nem tinha percebido nada.
— Ahn...? Carro...? Que carro...?
Chegando do outro lado da rua, ela me
falou:
— Levanta! Levanta!
Eu não sabia do que ela estava falando.
— Levanta o que, Nan?
— Levanta o pé, para subir na calçada!
Era óbvio. EU é que não estava na
sintonia dela, claro?
Nesse momento, senti com meu pé, a guia
rente a calçada, e subi logo atrás dela.
O deficiente sempre está à um passo
atrás, para que a gente sinta de o acompanhante para, sobe ou desce um
degrau...
Um guarda veio ao nosso encontro e
perguntou:
— Vocês não viram o semáforo?
A Nancy olhou para ele, como se ele
tivesse falando outro idioma:
— Ahn...? Semáforo...? Que semáforo...?
— ela perguntou.
— Este aqui. — Falou o guarda, olhando
para o alto do poste, com toda a paciência do mundo — Estava vermelho pra
vocês.
Então me lembrei:
— Ai, Nancy, por isso que a moça passou
xingando... Ela estava falando com a gente!
Caímos na risada, agradecendo e nos
desculpando com o guarda.
Chegamos na loja, ainda rindo da
situação, e ela me ajudou a escolher um maiô lindo: preto, com um recorte
pequeno no busto de uma estampa floral, bem delicada e um zíper no decote.
Desde quando eu era , pequena, quando
ela inventava estórias para nos contar, a Nancy fazia, e ainda faz, com que eu
sinte, que todos os momentos que passamos juntas, se tornem especiais.
Parece que me leva para outro planeta,
onde tudo é bonito, colorido, perfumado e bom.