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São Paulo, SP, Brazil
Uma deficiente visual (Retinose Pigmentar), que vê a vida, como um presente à ser desfrutado.

terça-feira, 17 de abril de 2018

...Engodo

       Uma vez, quanto estava de férias, na Ilhabela, fui passar o dia com minha amiga Márcia, na casa da mãe dela.
Mais uma vez, constatando que nada é por acaso, ela e sua filha, Cris, estavam ansiosas para me contar que o irmão da Márcia, havia conhecido um Oftalmologista, proprietário de uma clínica em Campinas-SP, que poderia avaliar o problema visual da Cris.
Combinamos de irmos, todos juntos, para que eu pudesse, também, sondar sobre o meu problema: Retinose Pigmentar.
Durante a consulta da Cris, comentei que eu tinha Retinose, e o médico disse, entusiasmado:
– Agora, já tem a solução para a Retinose! È uma técnica Russa, que já estamos usando agui, na clínica.
Noooossa!
Era tudo que eu esperava ouvir, durante toda a minha vida!
Ele disse para reparmos nas publicações emolduradas, que estavam nas paredes de todas as dependências da clinica: corredores, salas de espera...
Mas, todas elas estavam escritas em russo, portanto, não conseguíamos entender nada.
Perguntei tudo o que era preciso para o precedimento, que ele me disse que nem era bem, uma cirurgia, mas sim, uma medicação injetada nos olhos, e que por segurança, era feito, um olho de cada vez, dando prioridade ao olho que tinha visão mais comprometida.
Voltamos para casa, muito entusiasmados, mas, meu irmão não se contagiou com este entusiasmo.
Ele, mais realista, disse que precisávamos nos certificar melhor... Se havia pessoas que tiveram sucesso... Ou, no mínimo, pedir a opinião de nosso primo, médico.
Liguei para ele, contei toda a história e perguntei sua opinião.
Como ele sempre foi mais “pé no chão”, disse que iria pesquisar e sondar, se todas as informações que passei, teriam algum fundamento.
Não encontrou nada com alguma consistências.
Me falou, inclusive, que para um tratamento ou precedimento fosse considerado legítimo, eficaz, e publicado nas revistas médicas especializadas, oficiais, teria que ter uma casuística de, no mínimo, 60%.
Meu primo ainda acrescentou:
– Nossa, Sil, se com limitação visual, você já faz tanta coisa, não posso nem imaginar o que você faria, enxergando tudo...!
Respondi, com um tom debochado:
– Ahn... Que tal, piloto da NASA?
Caímos na risada.
Ele não consegiu constatar nada, sobre o tratamento, e me aconselhou esperar mais um pouco.
Mas, eu sabia, que não conseguiria sossegar, se não arriscasse.
Meu irmão, embora entusiasmado com a possibilidade da cura da Retinosa, foi mais cauteloso. Achava que ainda era cedo para nos arriscarmos.
Marquei uma consulta, e o médico disse que o precedimento seria: no olho com visão mais comprometida,uma anestesia local, para que eu me mantivesse lúcida para ir orientando a cirurgia, e que seria colocada uma lente, vinda da Rússia, que substituiria o tecido da retina, e também, seria injetado, um medicamento que auxiliaria no precesso, para que o tecido novo, saudável, substituísse o outro, com o pigmentos que compromentem o campo visual.
Assim, eu alcançaria a cura da Retinose Pigmentar.
Mas, infelizmente, isso não aconteceu.
Durante a cirurgia, fiquei toda amarrada à maca, o que me deu uma sensação de desespero, e acabeu ficando com uma taquicardia, como sequela.
Precisei ficar acordada, para atender as orientações do médico:
– Agora, olha para cima... Para a direita...
Eu sentia a cânula, embora fininha, entrando no canto interno do olho para colocar a tal película, enrolada, que segundo o médico, depoisde posicionada, seria aberta, já, no local exato, para que substituísse, com o tempo, o tecido da retina.
Eu pedia, encarecidamente, para que me deixassem, pelo menos, dobrar uma perna, pois, estava me dando desespero.
Eles alegavam, que não poderiam arriscar, pois, o mínimo movimento que eu fizesse, durante a cirurgia, poderia ter consequências desastrosas.
Nem sei quando, e se foi, realmente, injetada alguma medicação, no meu olho direito.
Quando, finalmente, me levaram para a sala de recuperação, me disseram que iriam avisar minhas acompanhates que a cirurgia havia terminado.
Minha mãe, por sua vez, ficou acompanhando várias cirurgias, que segundo eles, era em tempo real, e ela assistiu uma, achando que seria a minha.
Acho que não era. Seria uma simples cirurgia de miopia, e como demoraram para chama-la, começou a me procurar por toda a clínica, até que me encontrou na sala de recuperação, me vestindo para sair correndo, dali.
Fui orientada à voltar, no dia seguite, para a retirada do curativov.
Quando acordei, meu olho estava roxo e tão inchado, que eu mal conseguia abrir, por mais que eu me esforçasse.
Meu rosto, deformado.
Quando cheguei na clínica, no dia seguinte, as funcionárias me perguntaram o que havia acontecido.
Ficaram me procurando pelas dependencias, e pensaram que eu tinha fugido, surtado... Sei lá o quê.
Eu, simplesmente não sabia que deveria esperar pelos médicos que iriam relatar todo o procedimento para minha mãe e minha prima, Priscila.
Contei que, quando elas entraram na sala de recuperação, eu já estava terminando de me arrumar, e só queria sair correndo, daquele lugar, e fomos embora.
Eu estava transtornada, desarvorada.
Na retirada do curativo, o médico, chinês, pedia para que eu abrisse bem os olhos:
– Abre mais... MAIS...
Quase falei para ÊLE, abrir seus olhinhos, pois, o inchaço era tão grande, que eu, por mais que tentasse, não conseguia abrir o olho.
E o hematoma, então?
Parecia que eu tinha lutado boxe, e que tinha levado um “direto” no olho direito.
Comecei a perceber, que essa criurgia, tinha sido um engodo, principalmente, com o passar do tempo, constatando que não houve nenhum resultado positivo.
Falei que não estava enxergando bem, e ele disse que o resultado da cirurgia poderia demorar até UM ANO!
A expectativa da melhora, ainda se arrastou por mais um ano, e... NADA!
Ainda por cima, paguei US$ 1000,00.
Para sofrer tudo isso.
Quase dois anos depois, marquei uma consulta, junto com a Cris, na Clínica do Prof.Dr. Rubens Belfort Filho.
Quando contei à ele, tudo o que havia acontecido, em Campinas, ele disse, quase murmurando, indignado:
– Essas pessosas deveriam estar na cadeia! Isso é crime! Charlataneismo!
E continuou:
– Voce poderia ter usado seus dólares para se divertir no Caribe, ou em qualquer outro lugar... E ainda pagou para sofrer!
Fiquei tão arrasada, que ele logo tratou de me animar:
– Tenho um colega, que acha que dentro de uns 5 ou 6 anos, teremos a cura da Retinose Pigmentar.
– Eu, como sou mais pessimista, acredito que demore um pouco mais... Uns dez anos...
Isso, já faz mais de 25 anos...
Mas, não perco a esperança.
Confio, plenamente, na equipe de pesquisadores da USP de Ribeirão Prêto.
Não tenho mais idade para sonhar em ser piloto da NASA, mas... Que tal, piloto de helicóptero...?
 

2 comentários:

  1. Na esperança o esforço e a confiança... Mas eu TB fico pensando no que sera capaz de fazer enxergando tudo! Gosto de seu bom humor! Parabéns! Bj

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  2. É triste vermos pessoas que não se importam com o próximo... Tudo é aprendizado, prima. Agora você alerta pessoas que possam cair nesta conversa. Admiro muito você!

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Reflexões

Para cima, e para o alto!



Se um dia, menino

A vida lhe pega

Andando sem tino

Caindo na pedra



Não fica, menino

Por causa da pedra

Como o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Um dia essa pedra

Com mêdo de alguém

Com o corpo em queda

Pode ir além

De um poço sem fim



Não fica, menino

Por causa da pedra

Com o corpo fechado

Com um corpo de pedra



Silvann@____