Na cachoeira da Toca
Essa história poderia muito bem, ter
como título uma frase de autoria duvidosa: Lao Tsé, Jean Cocteau, Mark Twain...: “Não sabendo que
era impossível, ele foi lá e fêz”.
A bem da verdade, eu já tinha ficado com muita vontade de conhecer
a cachoeira da Toca, na Ilhabela, desde que uma amiga nossa tinha falado coisas
incríveis, sobre esse lugar.
Na época em que os parques infantis tinham os grandes tobogãs,
nossa amiga contou que foi em uma cachoeira, na Ilhabela, que tinha um tobogã natural,
esculpido nas pedras, pelas àguas da corredeira.
Meu irmão e eu, ficamos ansiosos
pela chegada das férias, para irmos até lá.
Acho que até meus pais ficaram
curiosos, pois, logo disseram que nos levariam, com os pais da Elayne e do
Tico, que sempre compartilhavam as férias, feriados e descobertas, com a gente.
Logo, no início das férias, quando
chegamos em Caraguá, começamos a programar o passeio na Ilhabela.
Estávamos em 11 pessoas.
Nossos pais: tia Ignês, tio Cláudiok “tia” Elza, “tio” Alcides (adultos)
e, nós, os filhos: Niltinho, Elayne, Tico, meu irmão e eu.
Tivemos que acordar bem cedo, pra não pegarmos fila na balsa, e aproveitarmos
bem o dia, na ilha.
Nossas mães prepararam tudo para um
delicioso piquenique e fomos, ansiosos, para conhecer o tal tobogã natural,
Já tínhamos ido varias vezes até a
ilha, e desde muito pequena já ficava deslumbrada com a beleza do lugar: os
mistérios da pedra do sino, o clima tão bucólico da Vila, com sua arquitetura
colonial do tempo dos engenhos, a casa da fazenda do Engenho D’agua, a
vegetação tropical taõ exuberante, as praias...
Demoramos um pouco para encontrar o lugar, pois, a cachoeira,
fica em uma propriedade particular em uma estrada bem rudimentar que atravessa
a ilha, de Oeste à Leste, até a famosa Praia dos Castelhanos, que eu ainda não
tive oportunidade de conhecer, mas, gostaria muito.
O trajeto desta estrada, é difícil, mas,
pode ser feito com carros fortes como um jipe 4 X 4, a pé, ou por mar, como fazem
os pescadores que moram no lado Leste da ilha.
O trajeto feito à pé, e frequentemente feito pelos mochileiros e
campistas.
Alguem viu, ao chegarmos, uma placa,
escrita à mão, sinalizando: Cachoeira da Toca.
Fomos entrando pela mata, seguindo o
som da corredeira.
O lugar tem uma vista deslumbrante!
Só natureza, repleta de cores e
sons.
Um recanto com uma espécie de lago, à
esquerda, rodeado pela mata atlântica; à direita, uma espécia de escada
natural, que acompanha o terreno em aclive, formada pelas pedras, que dá acesso
à tão famosa: ”Cachoeira da Toca.
Já tinham me dito que ali, a gente poderia entrar pela lateral
esquerda, e ficar entre o rochedo e a queda d’àgua. Fomos entrando, um à um,
esperando, até todos estivessem lá, para pudéssemos compartilhar aquela emoção,
aquele deslumbramento, de descoberta, boiando em uma espécia de poço, com uma
rocha em nossas costas, e a forte queda d’àgua à nossa frente; tomando coragem
para fazer o que tinham nos ensinado: dar um impulso com o pé na rocha, em
direção à queda d’âgua, de barriga, usando a força da àgua para nos impulsionar
para fora daquela espécie de refúgio.
Era mágico!
A gente sentia como se tivesse descoberto um lugar secreto.
Mas,
quando saí, percebi que tinha dado um impulso muito forte, e por isto, perdi o
controle da velocidade, e fui levada pela correnteza.
Meu pai, logo percebeu que eu estava sendo levada pela
conrredeira e tratou de pular na minha frente, bloquear a minha passagem, me
tirando da àgua, assustado.
A minha mãe e os meus tios, também se assustaram.
Voltando, descendo pela escada de pedras, no final dela, reencontramos
a plataforma de pedra; uma rocha grande, que dá acesso, à esquerda, ao famoso tobogã natural.
Nós, meus pais, meu irmão e eu, já sabíamos que era só entrar
pela parte mais alta, para que a corredeira nos conduzisse pelo “grande
escorregador”.
Ficamos todos parados, nos entreolhando e esperando que alguém tomasse
a iniciativa, e ser o primeiro à escorregar.
Depois de alguns segundos de silencio, como ninguém se manifestou,
e eu sabia que era seguro, e que muita gente já tinha escorregado ali... Adivinha
quem se propôs à ir primeiro...?
Dei meus óculos para alguém segurar, e... Lá fui eu...
Nós tínhamos conhecimento de que muitas pessoas já tinham escorregado
ali, por isto, eu tinha certeza de que não correria nenhum perigo.
Me enganei.
Quando estava na metade do trajeto, de repente, vi uma saliência
enorme da pedra à minha direita, se aproximando, rapidamente.
Só deu tempo de colocar a mão direita na pedra e dar um impulso
para a esquerda, para desviar dela.
Quando cheguei às àguas calmas da piscina natural, fiquei
aliviada e achei o lugar ainda mais relaxante, com a luz do entardecer.
Consegui sair de lá, com a ajuda de todos e de um tipo de puxador
de ferro, incrustado na plataforma de pedra que se espraiava até a ”piscina”,
com uma inclinação bem íngreme.
Esta espécie de puxador, ajuda bastane na saída dos banhistas,
principalmente, quando a pedra já está molhada e escorregadia.
Depois que saí da àgua, todos comentaram sobre o perigo de
escorregar muito pela direita por causa da saliência, ameaçadora, da pedra do
lado direito da corredeira.
Assim, fomos pegando o jeito, e nos divertimos muito, apesar do
esforço ao sair da àgua.
Aproveitamos aquilo tudo até o finalzinho da tarde, quando
começou escurecer e nossas forças se esgotaram de tanto subir e escorregar,
subir e escorregar..
Em muitas situações como essa, eu poderia mudar a famosa frase
para: “Não sabendor que era impossível, fui lá e fiz!”
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