Quanta
imaginação!
Quando
mudei, com a minha família, para Apiaí, uma cidade do interior do estado de São
Paulo, criei o hábito de escrever muitas cartas para os meus amigos e parentes,
e depois, quando voltei a morar em Poá, só inverti a direção dos destinatários.
Troquei
correspondências com os meus amigos de Apiaí, por muito tempo.
Infelizmente
este hábito foi escasseando, até pararmos.
Uma
pena!
Sinto
muitas saudades dos meus amigos de lá, e tenho muito poucas notícias deles.
Como
eu sempre gostei de escrever, a Elayne, minha amiga de infância, vivia dizendo
que eu deveria escrever um livro, mas eu nunca me senti com imaginação
suficiente para isto.
Acho
que fui perdendo o senso criativo ao longo do tempo.
A
minha mãe sempre conta que desde muito pequena, além de ser muito tagarela,
tinha uma imaginação fértil, e se eu cultivasse isto, sem a censura que a gente
vai adquirindo ao longo dos anos, acho que eu seria uma escritora de enredos rocambolescos...
Ela
tinha uma tia, que fez uma viagem com a gente, e ficou tão encantada comigo,
que sugeriu que a sua neta tivesse meu nome, e a nora grávida, aceitou a
sugestão,
Nesta
viagem, eu ficava falando o tempo todo, como se tivesse contando uma história,
e ia acrescentando tudo o que via, ou com a ajuda da minha mãe, na história.
Eu
via uma vaquinha, e falava:
— A menina, tinha uma vaquinha...
E minha mãe perguntava:
— De que cor?
E eu descrevia a vaquinha:
— Branca e preta, com um rabo comprido, e andava atrás da
menina...
Depois eu via uma árvore:
— E elas foram até uma árvore, e sentaram na sompra pra
descansar...
E vendo uma casa...
— depois voltaram para a casa da menina...
E minha mãe::
— Como era a casa da menina?
E eu contava:
— Branca, com a porta e as janelas pintadas de vermelho...
E assim, a viagem longa, foi passando rapidamente, e me
distraindo, eu não me sentia enjoada.
O que acontecia muito, e a minha mãe tentava evitar de todas as
maneiras possíveis, inclusive aguçando a minha imaginação.
Boa
tática.
Na
maioria das vezes, funcionava.
Uma
das histórias que minha mãe sempre conta, é que eu estava brincando de casinha,
de faz-de-conta, na sala da casa da minha avó Júlia, que até hoje a gente chama
de sobradão, e no meu mundo de faz-de-conta.
Ofereci
café pra todos que estavam na sala, provavelmente imitando a minha mãe, me
dirigindo de de um por um:
— Aceita um cafézinho...?
— Aceita um cafézinho...?
— Aceita um cafézinho...?
Depois parava no meio da sala, como a minha mãe, e olhava para
cada um, contando:
— Um... Dois... Três... Quatro...
— Então... São cinco cafezinhos.
E ia em direção á mesa da sala de jantar, e fingia colocar o
café nas xicaras, fingia pegar o açucareiro e colocar o açúcar, e mexer...
Continuando a cena imaginãria, coloquei tudo na bandeja, e
voltei para a sala fingindo servindo o café, um por um.
Enquanto fazia isso, tocaram a campainha, e como estava em pé no
centro da sala, minha mãe falou:
—Sil, veja que está no portão.
Eu olhei para as minhas mãozinhas vazias, na posição de quem
está segurando uma bandeja, e titubiei, olhando em redor.
Todo mundo percebeu que eu
estava procurando um lugar para apoiar a bandeja invisível... E caíram na
risada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário